Iniciado em dezembro de 1982, como fanzine, o Chanacomchana teve 12 edições até maio de 1987, dando visibilidade às lésbicas e às lutas pelos direitos homossexuais do período. A decisão de revisitar suas edições e resenhá-las, que iniciei há cerca de um ano e meio, se deveu à necessidade de dar respostas mais embasadas a estudantes que me contatam para entrevistas sobre a publicação, como subsídio às minhas memórias de ativista e editora, e para situar o fanzine em seu real contexto histórico político e ideológico, vítima que tem sido de enormes anacronismos, fabulações, usurpações e mesmo fraudes.
De fato, o Chana vai abordar as questões vigentes tanto no tocante à micropolítica dos movimentos sociais do qual o GALF participava, feminista e homossexual, quanto à macropolítica do Brasil que se redemocratizava. Assim, na micropolítica, aborda as questões polêmicas do período, por exemplo, como a do questionamento da identidade homossexual, os problemas da político-partidarização do movimento feminista, a autonomia dos movimentos sociais em relação a partidos políticos, o heterossexismo do movimento de mulheres. Também na micropolítica dos movimentos internacionais, o registro do andamento dos direitos de gays e lésbicas no exterior, vide as atividades do Serviço de Informação Lésbica Internacional e minha participação em sua 8ª Conferência em Genebra. Destaque também, em termos nacionais, para o happening político do Ferro's Bar.
Nas questões macropolíticas, o registro dos primeiros diálogos dos grupos de gays e lésbicas com o poder público, com vistas a combater abordagens policiais discriminatórias, para ter apoio junto a parlamentares, contra o parágrafo 302.0 do INAMPS, que classificava a homossexualidade como desvio sexual, e pela inserção de um dispositivo contra a discriminação na nova constituição brasileira.
Nas questões mais teóricas, o debate sobre a reprodução dos papeis sexuais, hoje de gênero, como raiz da opressão das mulheres e das pessoas homossexuais em geral. E, dando voz às lésbicas invizibilizadas do período, as entrevistas temáticas sobre saúde, família, maternidade, sexualidade, fora poesias, resenhas, etc.
Chanacomchana é o passado falando com sua voz própria. Tentar fazê-lo confessar, sob tortura, coisas que, de fato ele nunca disse, como, por exemplo, resistências a uma ditadura militar que não mais existia, é anacronismo, desonestidade moral e intelectual. É fraudar a história do Brasil, do MHB de seus primeiros anos, do GALF, e e de suas integrantes. Melhor ouvi-lo (lê-lo) simplesmente. Abaixo a lista das resenhas das 12 edições do CCC.
Dez. 82 | CCC 1 | |
Fev. 83 | CCC 2 | |
Maio 83 | CCC 3 | |
Set. 83 | CCC 4 | |
Maio 84 | CCC 5 | |
Nov. 84 | CCC 6 | |
Abr. 85 | CCC 7 | |
Ago. 85 | CCC 8 | |
Dez.-fev.1985/6 | CCC 9 | |
Jun.-Set. 1986 | CCC10 | |
Out.-Jan. 1986/7 | CCC 11 | |
Fev.-Maio 1987 | CCC 12 |
[1] Os outros foram os Grupos Lésbico-Feminista (1979-1981) e Rede de Informação Um Outro Olhar (1990-2009)
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