Autora de romance lésbico juvenil: 'Falta de representatividade me cansou
Desestimulada por sempre encontrar casais hetero nos romances, Elayne Baeta resolveu escrever sua própria história. "O Amor Não É Óbvio" (Galera Record), primeiro romance lésbico juvenil a integrar a lista de mais vendidos da revista Veja, chegou primeiro nas plataformas digitais antes de ganhar espaço em uma grande editora.
Me sentia frustrada demais por não achar livros sobre mim, então fiz esse romance lésbico clichê. Mas não imaginava que me tornaria escritora depois disso", contou Elayne em entrevista a Universa.
Segundo a autora, durante o seu período de descoberta de orientação sexual, fez falta conseguir achar um livro que narrasse histórias sobre ela, por isso fez a escolha de ajudar adolescentes a ter o que ela não teve: referências. "Eu adorava ler mas só tinham histórias de casais héteros. Eu fui parando de ler por causa disso. Até tentava, na minha cabeça, trocar a sexualidade dos personagens, mas a falta de representatividade me cansou. Comecei a escrever por isso. Talvez fosse tarde demais para mim, mas não era para muitas meninas", diz Elayne.
Como o sucesso de vendas do livro, ficou claro que ela está dialogando com muita gente além do público jovem. E pela experiência da Elayne com o público é bem isso que acontece: para o bem e para o mal. Enquanto há pais que proíbem a leitura, rasgam e jogam fora o livro, outros a agradecem por existir um caminho para que consigam entender melhor os filhos.
De mães, avós a leitoras com a idade da minha mãe me mandam mensagem. Algumas me agradecem por ajudá-las a abrir a cabeça. Na sessão de autógrafos que fiz na Bienal do Livro do Rio de Janeiro a fila era bem diversa. Tinham meninos gays, mãe de leitora, pai de leitora. Claro que também recebo muitas histórias tristes, de pais que proibiram ou rasgaram o livro", conta.Muitos pais alegam não querer que os filhos tenham a sexualidade afetada pela história - um dos grandes absurdos da homofobia.
Elayne Baeta, autora de romance juvenil lésbico |
O clichê que faltava
Quantos beijos lésbicos você já viu em livros de romance? Se pesquisar, consegue encontrar livros digitais com protagonistas gays, mas até eles priorizam os homens. E, quando se encontra, a pegada é mais erótica do que romântica. Entre os livros impressos em grandes editoras é quase impossível de localizar algo sobre o tema.
Não temos conteúdos com essa vibe de colégio como em 'O Amor não é Óbvio'. Livros com homens gays já conquistaram mais espaço, mas falta muito para as outras siglas. Espero que mais livros lésbicos surjam e que a gente consiga alcançar mais espaço na literatura atual. Não conheço nenhum além do meu. Eu pretendo publicar muitos livros sobre o assunto. Minha meta é que estejamos em todos os gêneros literários. Quero ver lésbicas na fantasia, por exemplo", diz Elayne.E foi essa ausência nas livrarias que a fez escolher escrever uma história água com a açúcar e clichê: é para ser fofinho como vários livros com outros personagens que encontramos por aí.
Além disso, a autora tinha como foco conseguir dialogar com o público que mais precisa se sentir acolhido em um momento de descoberta, as adolescentes.
Só conseguia pensar que se eu tivesse encontrado esse refúgio quando jovem, meu processo de descoberta teria sido diferente e eu não teria me sentido tão sozinha nesse momento que é muito solitário. Todos precisamos de apoio e representatividade. A nossa trajetória, traumas, inseguranças e até a coragem interna se definem a partir disto. Por isso, minha história fala de uma personagem jovem, saindo do armário e passando por situações semelhantes a algumas que eu vivenciei", diz Elayne.Apesar do sucesso, essa não é a única obra da autora. Ela também está lançando "Oxe, baby", um livro de poemas.
Ele já pré existia. Eu fiz uma seleção do que eu já tinha escrito para a publicação. Foi para a editora depois, mas na minha vida de escritora veio antes do romance", conta.
N.E. Elayne deve se referir aos romances lésbicos para o público juvenil porque, literatura lésbica de fato, existe no Brasil desde Cassandra Rios há uns 50 anos.
Clipping "Autora de romance lésbico juvenil: 'Falta de representatividade me cansou, por Rafaela Polo, Universa (UOL),07/04/2022
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