Vitória (à esquerda) e Nívea (à direita) com a filha Aurora — Foto: Nívea dos Santos/ Divulgação |
Nívea dos Santos e sua companheira, Vitória Balmant, de Echaporã (SP), conseguiram se tornar mães com a doação de sêmen do seu irmão, Artur dos Santos. Após a inseminação, nasceu a pequena Aurora de 10 meses e a ligação entre os irmãos se tornou ainda mais forte.
A relação da regente da banda municipal de Echaporã (SP), Nívea dos Santos, de 41 anos, e do seu irmão, Artur Henrique dos Santos, de 21 anos, sempre foi muito forte e se tornou ainda mais especial depois que um gesto do caçula mudou a vida da funcionária pública e da sua companheira, Vitória Balmant, de 26 anos.
O casal de mulheres sonhava em ter um filho, mas ao pesquisar os métodos de inseminação artificial, viram que não teriam condições de arcar com os custos que eram muito altos.
Nívea conta que Vitória começou a fazer ainda mais pesquisas e encontrou o método de inseminação caseira. O procedimento ainda não é regulamentado pelo Ministério da Saúde e nem aconselhado pela Anvisa, mas mesmo assim, o casal decidiu tentar. (Veja nota dos órgãos abaixo)
Durante uma conversa com a companheira, a funcionária pública recorda que mencionou que gostaria que a doação de sêmen fosse feita por um parente, para que o bebê também tivesse seus traços e logo a ideia do irmão ser um doador foi cogitada. Ao receber o pedido, Artur aceitou o convite prontamente.
“Conversamos e eu disse que queria um doador próximo, alguém da minha família, porque eu queria que o bebê tivesse traços meus também e o Artur é muito parecido comigo fisicamente. Então, pensei que poderia ser ele. Quando falei com ele, ele respondeu sem pestanejar: ‘Claro, Tata’ e aceitou. Eu falo que ele é meu filho mais velho, somos muitos próximos. Ele até hoje me chama de Tata.”
O gesto do irmão foi motivo de muita alegria para o casal e a inseminação foi um sucesso. A pequena Aurora Balmant Santos nasceu em 13 de outubro do ano passado e hoje já tem 10 meses de vida. A mãe conta que sua filha e o tio tem uma relação de muita proximidade e afeto.
Ele é um super tio, a gente ensina ela a chamar ele de Tito e ela está quase aprendendo. Ele fica todo emocionado. Eles se veem praticamente todo dia. Moramos próximos. Ela não pode ver ele que ela gruda no cabelo dele, ela adora e ele deixa”, conta rindo.
Nívea conta que Artur aceitou imediatamente o pedido dela e da sua companheira, Vitória, para que ele fosse o doador de sêmen — Foto: Nívea dos Santos/ Arquivo pessoal |
Cumplicidade e união
Os tabus envolvendo o procedimento de inseminação artificial, que são muito comuns devido à falta de conhecimento sobre o tema, também foram pauta na família dos irmãos.
Já que muitos associam a ação do doador a um vínculo paternal. No entanto, na família Santos, os papéis de mães e tio foram muito bem definidos desde o início da decisão de Nívea e Vitória de terem um filho e da aceitação do convite de participar desse sonho por parte do Artur.
Uma vez a minha mãe, que é uma mulher muito simples, perguntou se o Artur seria o pai biológico da nossa filha. E ele rapidamente respondeu que não, que era tio, o doador. E que a Aurora tinha duas mães e era a menina mais sortuda do mundo por isso”, relembra a funcionária pública.
A facilidade em entender um ao outro e o apoio incondicional sempre foram parte do vínculo que une os irmãos de Echaporã. Nívea relata que desde que era uma criança, Artur estava sempre tentando demonstrar a sua admiração pela irmã mais velha e até seguiu alguns dos seus passos na música. Ele é estudante de engenharia elétrica, mas também toca sax.
O Arthur é aquele irmão que é fã, sabe? Ele não perdia uma peça de teatro minha, estava sempre na mesma fileira, ele levava os amiguinhos quando tinha cerca de 5 ou 6 anos pra ver minhas peças de teatro e levava eles no camarim. Nunca perdeu uma apresentação da banda. E hoje ele toca sax por causa de mim e além de irmão, é meu aluno.”
Cumplicidade, respeito, união e admiração mútua são apenas algumas das características que tornam a relação construída entre esses irmãos tão especial e remontam a importância de ambos saberem que não importa o que aconteça, eles sempre terão com quem contar.
A nossa relação é baseada em respeito, amor incondicional, companheirismo e orgulho um do outro, a gente se define nisso. O Artur e eu não precisamos nem verbalizar para entender um ao outro. Nós nos entendemos pelo olhar. Ele fala que tem orgulho de mim e eu que morro de orgulho dele, que é um menino de ouro que estuda, trabalha. Só me dá orgulho”, diz Nívea.
Nívea (à esquerda) e Vitória (à direita) com Aurora, filha do casal, que já tem 10 meses de vida — Foto: Nívea dos Santos/ Arquivo pessoal |
Inseminação caseira
Consultado, o Ministério da Saúde informou que não dispõe de regulamentação para este procedimento, mas ressalta que SUS disponibiliza, em alguns de seus serviços, a reprodução humana assistida, incluindo a fertilização in vitro.
Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), informou, em nota, que não aprova tal procedimento e alerta que, por ser feito em ambientes domésticos e sem assistência de um profissional de saúde, oferece riscos que incluem a transmissão de doenças como hepatite, sífilis, HIV, entre outros.
A Anvisa ressalta ainda que, como são atividades feitas fora de um serviço de saúde e o sêmen utilizado não provém de um banco de espermas, as vigilâncias sanitárias e a Anvisa não têm poder de fiscalização.
De acordo com a Anvisa, apesar de ser uma escolha individual e não regulada, é importante que as pessoas que estão cogitando esse tipo de procedimento para engravidar avaliem o risco e conversem com um profissional médico especializado em reprodução humana.
No Brasil, todo tipo de comercialização de material biológico humano de acordo com o artigo 199 da Constituição Federal de 1988 é proibido.
Toda doação de substâncias ou partes do corpo humano, tais como sangue, órgãos, tecidos, assim como o esperma, deve ser realizada de forma voluntária e altruísta.
Clipping Mulher fala sobre realizar sonho de ser mãe com companheira graças a sêmen do irmão: 'Amor incondicional', por Gilmara Melo, sob supervisão de Paola Patriarca, G1 Bauru e Marília 05/09/2021
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