O futebol brasileiro viveu uma situação inédita no jogo entre Vasco e São Paulo do dia 25/08, pelo Campeonato Brasileiro: o árbitro Anderson Daronco paralisou o jogo por causa de cantos homofóbicos da torcida vascaína e alertou que não era permitido. Durante a vitória vascaína por 2 a 0, o técnico e os jogadores do clube pediram que a torcida parasse e foram atendidos. Assim, o jogo continuou. A postura do clube foi muito boa também fora de campo. Em nota divulgada no dia 26/08, o clube se colocou contra os cantos e diz que motivação para deixar de cantá-los tem que ser não por receio de uma punição, mas sim por uma questão de cidadania, respeito ao próximo e cumprimento da lei – homofobia, afinal, é crime.
Mais do que isso: a Diretoria Administrativa vascaína pede desculpas, na nota, a todos que corretamente se sentiram ofendidos por este comportamento. Com um histórico de origem popular e de combate ao preconceito, a nota do clube ressalta justamente essa história vascaína para pedir uma mudança de comportamento dos torcedores.
Preconceito é crime. E se existe um Clube no Brasil historicamente habituado a levantar a voz contra qualquer tipo de discriminação este é o Vasco da Gama, dono da história mais bonita do futebol. Assim foi com a resposta histórica de 1924; assim é com os cantos que o torcedor vascaíno entoa orgulhosamente na arquibancada enaltecendo a luta do Clube a favor de negros e operários”, diz o documento divulgado pelo clube.
As palavras são muito importantes em um processo que vivemos de repensar, civilizatório. O mundo evolui e o racismo que era “cultural” no futebol passou a ser mal visto (embora, infelizmente, ainda presente). Por décadas, foi comum usar xingamentos racistas no estádio, impunemente, de forma jocosa e ofensiva, com a justificativa de ser cultural. Isso mudou.
Como está mudando agora também a questão da homofobia. Ainda é muito comum ver xingamentos desta natureza nos estádios, mas a aceitação não é mais a mesma. E, não por acaso, o Brasil e o mundo mudaram. A Fifa passou a punir seleções cujas torcidas entoem gritos homofóbicos, como o México e o Brasil, que receberam multas. Ainda é pouco, mas foi um início.
Agora, há o estabelecimento de procedimentos para que os árbitros tomem quando há cantos homofóbicos. Vimos um jogo na França ser paralisado por causa dos cantos homofóbicos, fazendo, enfim, valer algo que a Fifa estabeleceu que é positivo. O STJD já tinha avisado, no dia 19 de junho, que haveria punições por cantos homofóbicos de torcedores, assim como existe a previsão de punição por racismo, já que os dois passaram a serem crimes no Brasil.
O processo é longo, não é simples, mas é importante que os clubes tenham consciência do seu papel social. A homofobia não pode ser aceitável e é de uma ignorância enorme. Isso não acaba com o futebol, muito pelo contrário: o torna muito melhor. É possível apoiar o time sem precisar discriminar alguém. Discriminar inclusive torcedores que sejam homossexuais, sempre afastados dos estádios por comportamentos ridículos de torcedores em todo o mundo. Passou da hora disso mudar. E o Vasco se colocou desta forma: a favor de mudanças.
As palavras do clube são animadoras não só pela postura, mas também porque o clube se comprometeu a ser proativo e promover ações educativas neste sentido junto ao seu torcedor. Mais do que isso, chamou o torcedor para ser parte disso, alinhado à história do clube, do que é o Vasco. A nota diz que a Diretoria Administrativa está “certa de que encontrará em cada vascaíno um aliado no combate a qualquer tipo de discriminação. O Vasco é de todos”.
Esse tipo de atitude é fundamental. Além da postura em uma nota oficial, o que o futebol brasileiro – e a sociedade, como um todo – precisa é ter ações que efetivamente busquem uma conscientização. O futebol é democrático e permite que todo mundo possa não só se divertir jogando, mas também participar torcendo, apoiando e sendo parte de algo maior. Independente de sexo, sexualidade, religião, classe social. O futebol é de todos.
N.E. O time também entrou em campo, na partida do 01/09/, contra o Cruzeiro, no Mineirão, com uma faixa de luta contra a homofobia. Os dizeres da mensagem mostravam a seguinte frase: "Respeito e igualdade são a nossa história".
N.E. O time também entrou em campo, na partida do 01/09/, contra o Cruzeiro, no Mineirão, com uma faixa de luta contra a homofobia. Os dizeres da mensagem mostravam a seguinte frase: "Respeito e igualdade são a nossa história".
Confira a íntegra da nota do Vasco:
Em relação ao episódio registrado na partida deste domingo (25/08) contra o São Paulo, o Club de Regatas Vasco da Gama lamenta e repudia qualquer canto ou manifestação de caráter homofóbico por parte de alguns de seus torcedores. Da mesma forma, a Diretoria Administrativa do Clube manifesta seu pedido de desculpas a todos que, corretamente, se sentiram ofendidos por este comportamento.O combate a este tipo de postura – iniciado ainda em campo, quando o técnico Vanderlei Luxemburgo, os jogadores, parte da torcida e o próprio Vasco da Gama, através do sistema de som do estádio, clamaram para que os gritos cessassem – não deve ser motivado pelo receio de punição desportiva (eventual perda de pontos), mas, sim, por uma questão de cidadania e respeito ao próximo e cumprimento da lei. Preconceito é crime. E se existe um Clube no Brasil historicamente habituado a levantar a voz contra qualquer tipo de discriminação este é o Vasco da Gama, dono da história mais bonita do futebol. Assim foi com a resposta histórica de 1924; assim é com os cantos que o torcedor vascaíno entoa orgulhosamente na arquibancada enaltecendo a luta do Clube a favor de negros e operários.A plateia de um estádio de futebol e a sociedade de maneira geral passam por um processo de aprendizado e conscientização necessário para que atos de preconceito fiquem no passado – um triste passado, diga-se. A Diretoria Administrativa do Club de Regatas Vasco da Gama compromete-se em promover ações educativas neste sentido junto ao seu torcedor, certa de que encontrará em cada vascaíno um aliado no combate a qualquer tipo de discriminação. O Vasco é a casa de todos.Diretoria Administrativa
Clipping Vasco dá exemplo em nota sobre cantos homofóbicos, promete combate e ressalta postura histórica do clube, por Felipe Lobo, 26/08/2019
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