O segundo turno das eleições presidenciais na Costa Rica, neste último domingo, levou o casamento gay para o centro do debate entre o candidato conservador, Fabricio Alvarado Muñoz, um pastor evangélico de 43 anos, e o representante de centro-esquerda Carlos Alvarado Quesada, ex-ministro de Desenvolvimento Social e do Trabalho, de 38 anos -- numa disputa ainda sem claro favorito. Atualização: Carlos Alvarado Quesada, ex-ministro do Desenvolvimento Social, jornalista e cientista político, tornou-se o novo presidente da Costa Rica.
Apesar de Fabricio ter saído na frente no primeiro turno, com 24,9% dos votos, as pesquisas indicam empate técnico. Uma sondagem do Centro de Investigação e Estudos Políticos da Universidade da Costa Rica (UCR) indica que o pastor do Partido Restauração Nacional (PRN) conta com 43% de apoio, empatado com o ex-ministro, do Ação Cidadã (PAC), com 42% das intenções de voto.
É a primeira vez desde 1950 que as duas forças políticas que dominaram o cenário eleitoral -- o Partido da Liberação Nacional (PLN) e o Partido Unidade Social Cristã (PUSC) -- ficam fora da disputa.
O empate vem desde o primeiro turno, quando os dois candidatos tiveram apenas três pontos percentuais de diferença, e se mantém nas pesquisas. Há uma volatilidade muito grande entre o eleitorado, que, somada à indecisão e à abstenção, fazem com que a definição deva ocorrer apenas no último minuto", disse o cientista político Rotsay Rosales, da UCR.
Alvarado Muñoz atraiu eleitores conservadores que se identificaram com sua oposição ao casamento gay, expressada depois de uma declaração da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) em janeiro, a favor da união. O pastor disparou nas pesquisas quando propôs retirar o país da Corte IDH em resposta à opinião do tribunal.
Do outro lado está o escritor, ex-cantor de rock e ex-ministro Carlos Alvarado Quesada, que apoia os direitos da comunidade LGBTI.
Durante a campanha, Fabricio prometeu combater o "estado secular" e a "ideologia de gênero". Na reta final, no entanto, em busca de alianças, o pastor diminuiu o tom do discurso e atenuou as críticas à Corte IDH, além de evitar fazer declarações sobre sua religião.
Mas analistas concordam que o voto cristão, que engloba grande parte dos indecisos, deverá ser decisivo para o resultado do pleito num país onde mais da metade da população é católica.
A campanha demonstra como a insatisfação dos eleitores com as elites políticas favoreceu a ascensão dos partidos religiosos", escreveu o ex-vice-presidente da Costa Rica Kevin Casas, em um artigo publicado no "New York Times". "Como os políticos tradicionais perderam a credibilidade, os eleitores recorrem a figuras religiosas que propõem o retorno de certezas morais que se diluíram em tempos de relativismo, ambiguidade ideológica e oportunismo".
Se nos debates Fabricio tem procurado se distanciar da religião, nos bastidores vem tentando atrair justamente o eleitor evangélico. Seu partido foi advertido nesta semana pela segunda vez pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), depois que veio à tona a gravação de uma reunião do candidato com centenas de pastores evangélicos para discutir o apoio dos religiosos na campanha.
Nas imagens, ele e seus aliados pedem "bendições" de transporte e alimentos para seus eleitores.
Seu opositor, por sua vez, criticou o programa do pastor, que chamou de carente de medidas concretas. Segundo ele, o "pulso firme" defendido pelo rival no combate ao crime serve apenas para agravar a situação. Carlos ainda voltou a defender o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Eu não escondo minha posição. Fui honesto com o público, embora fosse impopular", afirmou.Fonte: Agência Globo, 01/04/2018
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