Kika Motta, Carol Machado e Tereza (Foto: Simone Rodrigues/Divulgação) |
Carol Machado e a mulher, Kika Motta, falam da família que construíram
Atriz e artista visual posaram com a filha para o projeto 'Nomes do Amor' e contaram como lidam com sua configuração familiar perante a sociedade.
Atriz e artista visual posaram com a filha para o projeto 'Nomes do Amor' e contaram como lidam com sua configuração familiar perante a sociedade.
A atriz Carol Machado e sua mulher, a artista visual Kika Motta, participaram do projeto fotográfico "Nomes do Amor", da fotógrafa Simone Rodrigues, e falaram sobre a família que formaram junto com a filha, a pequena Tereza. No livro que integra o projeto - que também conta com um site e um curta-metragem - o trio aparece posando junto e o casal dá um depoimento emocionado sobre a construção de sua família. O projeto conta também com depoimentos de outras 27 famílias relatando suas memórias e reflexões sobre os processos de assumir a condição homossexual e a união homoafetiva.
Confira o depoimento de Carol e Kika, que estão juntas desde 2007:
Quando nos conhecemos, costumávamos dizer uma para a outra 'Nossa, que loucura vai ser a gente como casal!'. Era realmente um sentimento de surpresa. Nós temos o mesmo signo, gostamos das mesmas coisas… Depois de alguns anos juntas, tivemos o desejo de ampliar, do casal virar família. E de novo veio essa sensação, com a mesma intensidade: 'Nossa, que família a gente vai ser!'. As pessoas costumam falar 'Como vocês são corajosas!', mas a gente não se sente assim, apenas vivemos com naturalidade. Eu não penso 'Eu tenho uma família homoafetiva'. Essa família só existe porque é natural. É impressionante como um filho legitima algumas coisas. Não há resquícios de preconceito que permaneçam. A criança vem e é só amor, a família toda se rende. Nós sentimos que agora há um respeito maior".
Apesar de sentir um acolhimento maior desde que tiveram Tereza, o casal diz que ainda percebe um certo estranhamento social: "Mas ainda há muita desinformação na sociedade, as pessoas ficam um pouco chocadas. É mais uma surpresa do tipo 'Espera aí, mas como assim?'. Algumas perguntam 'Mas como foi? Foi inseminação? Vocês adotaram?'. Fica um ponto de interrogação na cara das pessoas. Eu acho muito legal, porque pelo menos elas já verbalizam, falar sobre a questão já é um avanço".
Eu não penso 'Eu tenho uma família homoafetiva'. Essa família só existe porque é natural. É impressionante como um filho legitima algumas coisas. Não há resquícios de preconceito que permaneçam. A criança vem e é só amor, a família toda se rende. Nós sentimos que agora há um respeito maior." Carol Machado e Kika Motta
As duas admitem que elas mesmas já ficaram sem saber como lidar com a configuração da própria família.
Nós mesmas já nos pegamos na dúvida sobre como lidar com a situação. Certa vez fomos a uma loja de bebês, a Carol estava grávida e a mulher perguntou sobre o pai. Na hora deu uma preguiça de contar tudo, de entrar no assunto, aí eu rapidamente falei 'É, é, o pai é grande, sim'. Depois nós refletimos e concluímos que não podemos entrar nessa, não podemos ter essa preguiça. Porque a Tereza está aí, ela já sabe de tudo e tem que ouvir a verdade para que isso fique num lugar tranquilo", esclarece Kika.
E é falando sobre o assunto que o casal tem percebido que consegue quebrar barreiras.
Quanto mais naturalmente a gente trata a questão, mais as pessoas se abrem. Porque o preconceito parte da nossa dificuldade. Ninguém é culpado ou faz por maldade, eles simplesmente desconhecem. Quando começam a conhecer, deixam de lado essa coisa do 'diferente', porque é absolutamente igual: os sentimentos, a maneira como você vai cuidar, as dificuldades…", explicam.
Carol Machado e a filha Tereza (Foto: Cristina Granato / Divulgação) |
Quando decidimos que teríamos filhos, começamos a pesquisar, a procurar médico, a pensar se seria com um amigo ou com doador. Conversando com uma amiga que tinha tido filho com um conhecido (que ela havia liberado da responsabilidade da criação), ouvimos dela a seguinte frase: 'Na verdade eu sublinhei uma ausência'. A criança sabe que ela tem um pai, que ele existe, só que não liga para ela. E isso foi muito determinante para nós. Optamos pelo doador anônimo porque planejamos ter uma família com duas mães. Sabíamos que, na prática, essa terceira pessoa não faria parte da criação da Tereza", pontuam.
Para as duas, o preconceito religioso é o mais marcante.
O mais chocante é o preconceito de algumas religiões, como elas podam os principais valores religiosos, que são o amor, a compaixão, o respeito, e jogam com o ódio, a intolerância. Isso demonstra o quanto elas estão afastadas do ensinamento primeiro da espiritualidade, que é o amor universal, e como preferem este papel de aprisionar, de adestrar as pessoas", desabafam elas, no depoimento.Fonte: Ego, 10/05/2016
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