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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Quando fala o coração: conservadores americanos que passaram a apoiar o casamento homossexual por causa de filhos LGBT

Advogado conservador lutou contra o casamento LGBT na Califórnia (EUA)
 até descobrir que a filha queria casar com outra mulher

Advogado que lutou contra união gay se rendeu à filha lésbica

O advogado americano Charles Cooper defendeu com vigor, no ano passado, a lei da Califórnia que bania o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Conservador, eleito “Advogado Republicano do Ano”, ele defendia também sua convicção de que casamento só pode existir entre um homem e uma mulher. Porém, em meio à batalha que travava dentro e fora dos tribunais, ele descobriu que sua filha era lésbica, amava outra mulher e queria se casar com ela.

Hoje, ele está fazendo o que pode para celebrar, da melhor forma possível, o casamento da filha. Anunciou que mudou de opinião, com base em sua convicção de que seu amor pela filha, que, na verdade, é filha adotiva, porque já havia nascido quando se casou com sua mãe, vem em primeiro lugar. A outra convicção, ele a abandonou.

A história é contada em um livro da jornalista Jo Becker, no New York Times, a ser lançado em breve. O livro descreve os bastidores de todo o movimento gay e das batalhas judiciais para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No final, a luta resultou em duas decisões da Suprema Corte dos EUA em favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo em 2013.

De acordo com a autora do livro, Cooper lhe contou que, no decorrer do processo, passou a admirar as demandantes, o casal de lésbicas, Kris Perry e Sandy Stier, pela coragem delas de buscar a Justiça para defender o direitos de igualdade dos homossexuais.

A admiração foi retribuída. Em uma declaração sobre o resultado do julgamento favorável a elas, elogiaram o trabalho dedicado de Cooper na defesa da lei, apesar de saber, desde que a Suprema Corte anunciou que aceitaria julgar o caso, que sua filha era lésbica.

Cooper confirmou à autora que continuou trabalhando todos os dias com seus colegas, fazendo pesquisas e atuando na corte, pela preservação da lei, apesar de estar com o coração partido, de acordo com o Washington Post e a agência Associated Press (AP).

Sua equipe enfrentou uma dupla de “inimigos”, unidos por uma causa: derrubar a lei antigay. Os advogados David Boies e Ted Olson, adversários de Cooper, representaram, respectivamente, o democrata Al Gore e o republicano George Bush na disputa judicial, na Suprema Cortes dos EUA, pelas eleições presidenciais de 2000.

A Suprema Corte decidiu contra os clientes de Cooper. Os ministros disseram que os demandantes não tinham legitimidade jurídica para desafiar a decisão do tribunal inferior, segundo a qual a lei da Califórnia era inconstitucional.

Em uma decisão considerada “limitada”, rejeitaram os argumentos de Cooper de que não há direito previsto na Constituição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. E, dessa forma, a decisão sobre permitir ou não a união entre homossexuais deveria ser deixada a cargo de cada estado. Com isso, a Califórnia e diversos outros estados legalizaram o casamento gay.

No final das contas, Cooper perdeu os debates na Suprema Corte e em casa. Ele contou à autora do livro que discutiu, por horas, o caso com a filha Ashley Lininger, apaixonada por uma “jovem mulher” identificada apenas como Casey. Foi uma briga ingrata, porque ele atacou a razão e ela atacou o coração.

“Me rendi, dizendo a ela que o que importava era que eu a amava e ela me amava”, ele contou à jornalista.

Depois que a imprensa revelou a história, Cooper divulgou uma declaração: “Minha família é como muitas outras famílias. Nós nos amamos e nos apoiamos mutuamente. Rezamos, nos alegramos uns pelos outros e lutamos pela felicidade de todos. Minha filha Ashley encontrou a felicidade em seu amor por uma jovem mulher chamada Casey e nossa família e a família de Casey estão ansiosas para celebrar o casamento das duas em algumas semanas”.

Charles Cooper, uma alta autoridade no Departamento de Justiça do governo Reagan, segundo o Washington Post, não foi o único republicano proeminente a trocar, recentemente, suas convicções políticas pelas razões do coração. O ex-vice-presidente Dick Cheney, que tem uma filha lésbica, e o senador Rob Portman, que tem um filho gay, abandonaram a posição ortodoxa do partido pelas mesmas razões.

Fonte: Revista Consultor Jurídico, 20 de abril de 2014, João Ozorio de Melo

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