Pegou mal chamar o noivo de noiva |
Cartório usa "ele" e "ela" para casal gay
Publicação oficial refere-se a um deles como mulher em Piracicaba (SP)
Um casal gay que vive em Piracicaba (SP) e está de casamento marcado para o dia 30 reclama de ter sofrido constrangimento pelo fato de um cartório de registro civil ter publicado em um jornal da cidade os dados de um deles como se fosse mulher, tratando-o no feminino como "ela", "solteira", "nascida", "filha" e "domiciliada".
Há 14 anos juntos, o engenheiro civil de 44 anos e o corretor de imóveis de 45 – que não quiseram se identificar – têm vivido situações que demonstram a falta de "adaptação" da sociedade à união homoafetiva. Apesar das dificuldades, os dois organizam uma cerimônia para 200 convidados e estão na etapa final para adoção de uma criança.
O engenheiro destacou que o processo de união é pago e, por isso, exige um tratamento apropriado. "É um serviço que estão prestando, eu paguei e quero receber tudo da maneira que escolhi. Pode não ser grave, mas criou um constrangimento", disse. Segundo o casal, a diferença na identificação dos gêneros foi tratada pelo cartório apenas como um "detalhe" – o que, na visão deles, não é.
"Não estou acusando o cartório de discriminação, mas me arrasou ver o edital de proclamas [anúncio oficial emitido pelo cartório na hora em que os noivos dão entrada nos papéis do casamento] da forma como foi feito. É um documento simples, basta modificá-lo. Sem falar que, no formulário, há questões como 'padrinhos da noiva'", afirmou o corretor.
O companheiro dele acrescentou que deve procurar o cartório para insistir que haja alteração nos documentos. "É algo relativamente simples de ser feito, então por que não fazer?".
Onde está a noiva?
Durante a preparação para o casamento, a compra de roupas, presentes e demais preparativos para a cerimônia, o casal relata ter visto outras situações similares de constrangimento. "Sempre que falamos do casamento, há perguntas como: 'Onde está a noiva?'. Passei, então, a ver um bom nicho de negócios voltado para casais homoafetivos, já que não há pessoas preparadas para atendê-los nos setores de comércio e serviços", destacou o corretor.
A cerimônia deve acontecer em um salão de festas de Piracicaba e reunirá amigos e familiares do casal. Segundo os noivos, a relação dos dois é conhecida e aceita, e eles nunca haviam sido vítimas de preconceito. Enquanto o engenheiro prefere ser identificado como gay e não como homossexual, o corretor diz que até hoje só sofreu discriminação por ser negro, nunca por sua opção sexual.
O engenheiro e o corretor já têm um contrato de união estável, mas decidiram pelo casamento com comunhão universal de bens depois que entraram na fila para adoção, há um ano. "Com relação à adoção, não tivemos entraves por sermos homossexuais. Estamos cadastrados e passamos por todas as etapas exigidas. Acredito que é muito grande o número de crianças que precisam de um lar, e não há motivo para não termos esse direito", afirmou o corretor.
Erro do sistema, correção e desculpas
A oficial substituta responsável pelo 2° Subdistrito Oficial de Registro Civil de Piracicaba, Lucila Maria Maffezoli, informou que o erro ocorreu por um problema no sistema do cartório durante a elaboração dos documentos, mas as informações foram corrigidas na mesma hora, na frente do casal, que concordou com as modificações e assinou os papéis corretos.
Sobre a publicação errada no edital de proclamas de um jornal da cidade, a oficial disse que também houve erro, mas que o engenheiro e o corretor já foram procurados na tarde de quinta-feira (3) e avisados de que o texto corrigido será publicado no dia 13 de abril. "Nós entramos em contato, pedimos desculpas e a compreensão deles, e explicamos que foi um erro do sistema e que, em nenhum momento, tivemos a intenção de constranger ninguém", justificou Lucila Maria.
Fonte: Cidade Verde, via G1, 04/04/2014
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