Por Míriam Martinho
Para o armário, nunca mais! – União e conscientização na luta contra a homofobia é o tema da 17ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo deste ano. O tema não poderia ser mais acertado para o momento, pois realmente a visibilidade LGBT está incomodando demais toda a fauna conservadora e seus simpatizantes.
De fato há uma parte do ativismo LGBT que dá munição aos conservadores, com sua patrulha constante de anúncios comerciais e falas de celebridades que não se inserem em seus cânones radicais. Entretanto, mesmo esses excessos não são suficientes para referendar a conversa vigarista dos conservadores de ditadura gay, gayzismo, gaystapo e congêneres. Em essência, os movimentos sociais buscam a isonomia de direitos entre os seres humanos, causa que os conservadores historicamente rejeitam. E é essa rejeição que constitui o pano de fundo das manifestações conservadoras contra os direitos homossexuais e não os excessos da militância. Na verdade, os conservadores querem é jogar o bebê fora junto com a água suja da bacia!
No texto Já para o armário! (ver abaixo), do jornalista Guilherme Fiuza, para a revista Época do dia 28 último, percebe-se bem esta predisposição (e olhe que Fiuza não é um típico conservador). Nele, o jornalista deixa transparecer seu ressentimento, com a visibilidade da causa LGBT, pretextando discordar da decisão do Conselho Nacional de Justiça de obrigar os cartórios brasileiros a celebrar o casamento civil entre pessoas de mesmo sexo. Embora advogados e juristas divirjam sobre a competência do CNJ para a decisão tomada, Fiuza declara peremptoriamente que "A resolução do CNJ sobre o casamento entre homossexuais é uma aberração, um atropelo as instituições pelo arrastão politicamente correto. A defesa da causa gay está ultrapassando a importante conquista de direitos civis para virar circo, explorado pelos espertos."
De fato há uma parte do ativismo LGBT que dá munição aos conservadores, com sua patrulha constante de anúncios comerciais e falas de celebridades que não se inserem em seus cânones radicais. Entretanto, mesmo esses excessos não são suficientes para referendar a conversa vigarista dos conservadores de ditadura gay, gayzismo, gaystapo e congêneres. Em essência, os movimentos sociais buscam a isonomia de direitos entre os seres humanos, causa que os conservadores historicamente rejeitam. E é essa rejeição que constitui o pano de fundo das manifestações conservadoras contra os direitos homossexuais e não os excessos da militância. Na verdade, os conservadores querem é jogar o bebê fora junto com a água suja da bacia!
No texto Já para o armário! (ver abaixo), do jornalista Guilherme Fiuza, para a revista Época do dia 28 último, percebe-se bem esta predisposição (e olhe que Fiuza não é um típico conservador). Nele, o jornalista deixa transparecer seu ressentimento, com a visibilidade da causa LGBT, pretextando discordar da decisão do Conselho Nacional de Justiça de obrigar os cartórios brasileiros a celebrar o casamento civil entre pessoas de mesmo sexo. Embora advogados e juristas divirjam sobre a competência do CNJ para a decisão tomada, Fiuza declara peremptoriamente que "A resolução do CNJ sobre o casamento entre homossexuais é uma aberração, um atropelo as instituições pelo arrastão politicamente correto. A defesa da causa gay está ultrapassando a importante conquista de direitos civis para virar circo, explorado pelos espertos."
Sem me deter nessa questão da competência ou não do CNJ, lembro apenas que vários estados já haviam determinado aos cartórios a aceitação dos pedidos de casamento civil homossexual, antes da decisão de Joaquim Barbosa, o que nos leva no mínimo a ponderar ter a decisão do mesmo respaldo legal ou então que ninguém mais entende de nada, com exceção naturalmente dos conservadores. Por outro lado, lembro também que, na França, não obstante o casamento igualitário ter sido aprovado pelo Legislativo local, os conservadores não aceitaram a decisão do parlamento e vêm ameaçando o governo Hollande, por seu apoio aos direitos LGBT, com uma versão neocon da queda da Bastilha. Em outras palavras, a questão legal parece ser o de menos nessa história ou, como se diz popularmente, o buraco é mais embaixo.
É mesmo. Todo o texto de Fiuza, fora as invectivas contra o presidente do STF, por supostas ilegalidades, encontra-se - retomando - perpassado pelo ressentimento quanto à visibilidade do tema homossexual. Já começa demonstrando seu desgosto com essa visibilidade ao afirmar que "a causa gay, como todo mundo sabe, virou um grande mercado comercial e eleitoral. Hoje, qualquer político, empresário ou vendedor de qualquer coisa tem orgulho gay desde criancinha." E termina com: "Um jogador de basquete americano anuncia que é homossexual, e isso se torna um espetáculo mundial, um frisson planetário." Ou ainda: "O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dá declaração solene até sobre a opção sexual dos escoteiros. Talvez, um dia, os gays percebam que foram usados demagogicamente, por um presidente com sustentação política precária, que quer se safar como herói canastrão das minorias."
De fato, a temática LGBT se tornou recorrente na imprensa hoje em dia, mas a razão para isso é muito simples, até óbvia: o processo de reconhecimento dos direitos civis das pessoas homossexuais é uma grande novidade e está em pleno andamento. Gays e lésbicas viviam se escondendo, mas vêm se assumindo cada vez mais, um fato bem recente. Nos países escandinavos, por exemplo, onde esse reconhecimento e visibilidade já tem anos, não há mais nenhum frisson sequer local quanto mais planetário sobre o assunto porque a novidade foi incorporada, os LGBT incluídos na sociedade. No resto do mundo ocidental, inclusive pela obstinada resistência dos conservadores em aceitar a lei universal da perpétua mudança, o assunto não sai das manchetes e provavelmente permanecerá nelas ainda por bom tempo. Passada essa fase, entrará no rol das coisas comuns das quais a imprensa não se ocupa.
Por isso, afirmei, no início do texto, que o pano de fundo das manifestações conservadoras contra os direitos homossexuais não são os excessos de parte da militância LGBT e sim a rejeição que os conservadores têm pela isonomia de direitos entre os seres humanos. Como, no caso dos LGBT, a repressão social se construiu pela invisibilidade forçada da existência homossexual, é precisamente contra ela que os conservadores agora mais investem. Não por menos se escuta todo o tempo o discurso cínico do "não se deve levar o que se faz entre 4 paredes a público", que homossexual bom é homossexual "discreto" que não afronta a tirania heterossexista e não sai por aí levantando bandeira. Considerando a impossibilidade de se reivindicar direitos sem visibilidade social, conclui-se que - obviamente - os conservadores não querem homossexuais reivindicando direitos.
E no afã de obter esse intento, os neocons desejam inclusive convencer a população LGBT que - vejam só - as demandas do ativismo LGBT não atendem seus interesses. Em seu texto, Fiuza declara ao final: "... A luta contra o preconceito precisa ser urgentemente tirada das mãos dos mercadores da bondade. Eles semeiam, sorridentes, a intolerância e o autoritarismo." Tira-se então a luta contra o preconceito das mãos dos "mercadores da bondade" para colocá-la nas mãos dos que repreendem os LGBT na base do "Já para o armário!"? Como se diz aos cães ou às criancinhas endiabradas!? É mole?
Entretanto, aviso aos neocons, a despeito das inúmeras diferenças existentes entre as pessoas homossexuais, ativistas ou não, e de suas diferentes visões de como encaminhar reivindicações por direitos ou lutar contra o preconceito, a maioria delas, salvo malucos portadores da Síndrome de Estocolmo, não quer saber de voltar para o armário, pois hoje tem certeza que armários foram feitos para roupas, não para pessoas. Assim como os negros saíram das senzalas para não mais voltar e as mulheres deixaram de ter no lar amargo lar seu destino e cárcere, os armários não mais aprisionarão os LGBT. Vale sempre repetir que a conservalha ladra (e luta encarniçadamente contra as mudanças sociais), mas a humanidade sempre passou e agora - mais uma vez - passa!!!!
Guilherme Fiuza
A causa gay, como todo mundo sabe, virou um grande mercado comercial e eleitoral. Hoje, qualquer político, empresário ou vendedor de qualquer coisa tem orgulho gay desde criancinha. Se você quer parecer legal perante seu grupo ou seu público, defenda o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Você ganhará imediatamente a aura do libertário, do justiceiro moderno. Você é do bem. Em nome dessa bondade de resultados, o Brasil acaba de assistir a um dos atos mais autoritários dos últimos tempos. Se é que o Brasil notou o fato, em meio aos confetes e serpentinas do proselitismo pansexual.
O Conselho Nacional de Justiça decidiu obrigar os cartórios brasileiros a celebrar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Tudo ótimo, viva a liberdade de escolha, que cada um case com quem quiser e se separe de quem não quiser mais. Só que a bondade do CNJ é ilegal. Trata-se de um órgão administrativo, sem poder de legislar e o casamento, como qualquer direito civil, é uma instituição fundada em lei. O CNJ não tem direito de criar leis, mas tem Joaquim Barbosa.
Joaquim Barbosa presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça é o super-herói social. Homem do povo, representante de minoria, que chegou ao topo do Estado para "dizer as verdades que as pessoas comuns querem dizer". O Brasil é assim, uma mistura de novela com jogo de futebol. Se o sujeito está no papel do mocinho, ou vestindo a camisa do time certo, ele pode tudo. No grito.
Justiceiro, Joaquim liberou o casamento gay na marra e correu para o abraço. Viva o herói progressista! Se a decisão de proveta for mantida, o jeito será rezar para que o CNJ seja sempre bonzinho e não acorde um dia mal-humorado, com vontade de inventar uma lei que proíba jornalistas de criticar suas decisões. Se o que o povo quer" pode ser feito no grito, o que o povo não quiser também pode. O Brasil já cansou de apanhar do autoritarismo, mas não aprende.
E lá vai Joaquim, o redentor, fazendo justiça com as próprias cordas vocais. Numa palestra para estudantes de Direito, declarou que os partidos políticos brasileiros são "de mentirinha". Uma declaração absolutamente irresponsável para a autoridade máxima do Poder Judiciário, que a platéia progressista aplaude ruidosamente.
Se os partidos não cumprem programas e ideias claras, raciocinam os bonzinhos, pedrada neles. Por que então não dizer também que o Brasil tem uma Justiça "de mentirinha"? Juízes despreparados, omissos e corruptos é que não faltam. Quantos políticos criminosos militam tranquilamente nos partidos "de mentirinha", porque a justiça não fez seu papel? A democracia representativa é baseada em partidos políticos. Com todas as suas perversões e são muitas -, eles garantem seu funcionamento. E também legitimam a ação de gente séria que cumpre programas e ideias, pois, se fosse tudo de mentira, um chavista mais esperto já teria mandado embrulhar o pacote todo para presente, com Joaquim e tudo.
A resolução do CNJ sobre o casamento entre homossexuais é uma aberração, um atropelo as instituições pelo arrastão politicamente correto. A defesa da causa gay está ultrapassando a importante conquista de direitos civis para virar circo, explorado pelos espertos. Um jogador de basquete americano anuncia que é homossexual, e isso se torna um espetáculo mundial, um frisson planetário. Como assim? A esta altura? A relação estável entre parceiros do mesmo sexo já não é aceita na maior parte do Ocidente? Por que, então, a decisão do jogador é uma bomba? Simples: a panfletagem pró-gay virou um tiro certo.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dá declaração solene até sobre a opção sexual dos escoteiros. Talvez, um dia, os gays percebam que foram usados demagogicamente, por um presidente com sustentação política precária, que quer se safar como herói canastrão das minorias.
Ser gay não é orgulho nem vergonha, não é ideologia nem espetáculo, não é chique nem brega. Não é revanche. Não é moderno. Não é moda. É apenas humano.
A luta contra o preconceito precisa ser urgentemente tirada das mãos dos mercadores da bondade. Eles semeiam, sorridentes, a intolerância e o autoritarismo. Já para o armário!
Fonte: Época - 28/05/2013
Fonte: Época - 28/05/2013
Todas as lutas por direitos civis através da História encontraram a mesma resistência desses conservadores: a das mulheres, dos negros, agora a dos homossexuais. É a História se repetindo outra vez. E essa gente que levanta bandeiras anti-humanitárias tem que ser combatida com todas as forças. Essa luta não é só dos homossexuais, é de todas as pessoas conscientes. Ótimo texto! Marcelo
ResponderExcluir