Na Época: Feliz para quem quiser ver |
Vale ressaltar que as duas revistas fizeram especiais sobre o coming-out de Daniela, a Época com uma abordagem mais descontraída e friendly e a Veja com uma abordagem meio em cima do muro e pouco à vontade, mais na base do fato consumado - casamento LGBT - que agora temos que deglutir de alguma forma.
Tanto que - incompreensivelmente - a reportagem afirma, em determinado momento, que Daniela prestou um desserviço ao mesmo tempo ao romantismo e à sua seriedade de propósitos por ter, além de saído do armário, criticado a presença do deputado-pastor Marco Feliciano na presidência da CNDH, o que seria misturar sua relação com política. E não pode?
À guisa de comparação, na carta aos leitores da Época, o redator-chefe da revista afirma que dois dos protagonistas da edição, Daniela Mercury e o ensaísta Samuel Pessoa, professavam o credo do filósofo liberal John Stuart Mill, porta-voz da liberdade tanto na área da economia como na dos costumes. O título é: Daniela, Samuel e o direito à liberdade! Para boa entendida, direito à liberdade basta.
De qualquer forma, pelo registro histórico, vale comprar as duas publicações. Aproveite também para agradecer à cantora sua contribuição aos direitos LGBT no Brasil pelo site da All Out.
"Estou feliz, estou amando"
De Portugal, onde está fazendo shows, a cantora Daniela Mercury falou a VEJA
Por que a senhora resolveu tomar pública essa relação?
DM: Porque quis ter minha dignidade preservada. Como todo mundo, quero ser aceita, ter liberdade, ser respeitada. Não suportaria ficar escondida. E o único jeito de não ficar escondida, com medo das fofocas, foi tratar isso como uma coisa natural - que, de fato, é.
A senhora disse que o fato de o deputado Marco Feliciano ter assumido a presidência da Comissão de Direitos Humanos influenciou a decisão de falar sobre a sua união. Em que medida?
DM: Claro que esse contexto político, a inadequação desse deputado ao posto, tudo isso me deu força. Mas eu acho que, quanto mais se falar das relações homossexuais, mais elas vão se tornar naturais para as outras pessoas. Antigamente, as mulheres sentiam vergonha de ser desquitadas. Isso passou. E passou porque a situação se tornou natural. Eu quero ajudar a fazer com que o amor entre duas pessoas - no caso, duas mulheres — também seja encarado por todo mundo como algo normal.
Como seus pais e filhos reagiram à situação?
DM: Falei com um por um. Para o meu pai, eu telefonei, e disse que tinha me apaixonado por Malu. Ele me perguntou: "Minha filha, não é um pouco cedo para você viver essa relação?". Eu disse que não, e que queria levar Malu para ele conhecer. Claro que não foi fácil. No fim da ligação, ele disse que não conseguia entender direito, mas que me amava. Minha filha de 15 anos perguntou se eu estava feliz e eu disse que sim. Depois que eu e Malu colocamos as fotos na internet, ela me mandou uma mensagem: "Vocês estão fazendo a maior confusão". E, logo depois, mandou outra: "Vocês estão lindas nas fotos".
Foi sua primeira relação homossexual?
DM: Eu já tinha vivido outras, A primeira vez que me apaixonei por uma mulher foi em 1991. Depois, namorei outras. A relação mais séria foi com uma mulher com quem fiquei antes de me casar com o Marco (seu marido durante três anos). Com ela, não assumi publicamente a relação. E foi muito ruim. Vivia com medo do que a imprensa e os paparazzi pudessem fazer conosco. Veja, eu nunca neguei que tivesse estado com mulheres. Quem estava à minha volta, meus filhos, meus amigos, sabia. Só nunca tornei a coisa pública. Mesmo sobre os homens com quem me relacionei, só falei publicamente depois que a relação ficou sólida - caso dos meus dois casamentos com homens.
A senhora diria que é bissexual?
DM: Eu me apaixono por pessoas. Não separo por gênero Se houvesse uns ETs charmosos por aí, eu ia querer conhecer também. Sou curiosa, sou aberta. Amor não escolhe o sexo. Acho que as pessoas se apaixonam, se amam e pronto.
Vocês se casaram no civil?
DM: Não. Nosso casamento foi assim: dias atrás, passamos por Paris e, naquela cidade romântica, compramos as alianças e trocamos os anéis. Imagine: fizemos isso em meio àquela enorme passeata que houve lá, de pessoas que são contra o casamento gay! Colocamos as alianças e fomos à Sacré-Coeur, já que somos as duas católicas. Fomos fazer nossas orações e pedir proteção. Logo em seguida, ligamos para a nossa família para contar a novidade. Não oficializamos a relação porque, por enquanto, não vimos necessidade. Mas, se as coisas práticas da vida pedirem, resolução sobre herança, por exemplo, daí podemos casar. Eu acho importantíssimo ter um instrumento legal que respeite e dê permissão ao casamento gay. Todo mundo fica mais protegido assim. Juliana Linhares
Malu agora é minha esposa
A cantora Daniela Mercury conversa com ÉPOCA sobre a repercussão de sua atitude, sobre o deputado Marco Feliciano e sobre os direitos gays
Bruno Astuto
- Por que decidiu se assumir agora?
Daniela Mercury- Não gosto da palavra assumir porque parece que é algo errado. Eu sou quem sou. Apenas comuniquei que casei com Malu.
- Não é de hoje que a luta dos gays deixou de ser sexual, para ser uma questão humanitária, de direitos humanos. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, muitas personalidades assumem sua homossexualidade de uma forma política, engajando-se em campanhas. Seu anúncio foi um ato político?
Daniela - Sem dúvida, tornar natural o casamento entre mulheres ou homens educa a população que está mais acostumada com outro padrão cultural.
- O reconhecimento dos gays está na pauta da hora, toda a polêmica das declarações de Marco Feliciano prova isso. Como avalia as declarações dele?
Daniela- É inacreditável que Marco Feliciano tenha sido escolhido para liderar a Comissão de Direitos Humanos. Isso me deixa estarrecida e assustada. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, que foi assinada em 1948 pelo Brasil, e a nossa Constituição já determinam os direitos dos cidadãos. Não cabe a um deputado colocar seus pensamentos acima da Constituição e da Carta dos Direitos Humanos.
- Em março, sua colega, Joelma, da banda Calypso, manifestou-se contra o casamento gay. Como você viu a questão?
Daniela - Eu sinto muito pelas declarações de Joelma.
-Mesmo estando fora do Brasil, está ciente das manifestações de apoio nas redes sociais? Esperava toda essa repercussão e carinho?
Daniela - Sim, acompanhamos quase tudo. Mais uma vez o apoio dos brasileiros mostra que somos um povo avançado e civilizado. E mais uma vez os brasileiros mostraram que Feliciano não nos representa.
- Qual seu maior medo em se abrir dessa forma? Como seus filhos reagiram?
Daniela-Meus filhos foram educados para conviver muito bem com as diferenças e conversamos abertamente e naturalmente sobre minha relação com Malu. Eles já a conheciam e gostavam dela.
- Sua amizade com Camille Paglia vai virar dois livros sobre você, escritos por ela. Conversou com Camille sobre sua condição?
Daniela- Condição de quê? Camille é uma mulher extraordinária, uma intelectual reconhecida entre os dez mais importantes do mundo. Ela resolveu escrever sobre meus figurinos e a abertura do circuito do Carnaval (Barra-Ondina) há 16 anos por se interessar pelos temas. O que chamou a atenção de Camille sobre minha arte, segundo ela, foi a espontaneidade e originalidade.
- Arrependeu-se de ter vindo a público em algum momento?
Daniela- Não. Me sinto como todo mundo. Sou uma mulher livre para namorar qualquer pessoa. Falei do meu casamento para usufruir minha liberdade.
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