De novo conservadores franceses foram às ruas para dizer que não acreditam na igualdade social

terça-feira, 26 de março de 2013

Liberdade, Igualdade e Fraternidade não são para todos,
segundo conservadores franceses

Por Míriam Martinho

No último domingo, novamente reacionários franceses foram às ruas de Paris para rasgar a bandeira da França. A bandeira tricolor francesa que representa o lema da Revolução Francesa "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" não vale para todos os cidadãos do país, segundo eles. 

Em sua mentalidade antidemocrática, liberdade é o direito que eles têm de ir às ruas protestar contra os direitos civis de parte da população local, contra os direitos civis dos outros.   

Igualdade, seja de oportunidades ou perante a lei, só serve para pessoas heterossexuais.

Fraternidade é conversa mole para se ouvir nas igrejas em dia de domingo.

Como dizer isso abertamente pega mal porque contraria pilares das democracias modernas e inclusive sua hipócrita falação do "amor ao próximo", eles resgatam o velho mantra conservador da defesa da família (que estaria supostamente ameaçada, desta feita pelo casamento homossexual) para justificar seus ataques. Atacamos porque estamos sob ataque. 

Mas de fato não é a família tradicional que está ameaçada e sim o conceito de família como exclusivamente nuclear e heteropatriarcal que está mudando. Os conservadores se ressentem da perda do monopólio do conceito de família pela simples expansão do mesmo. Não há grupos terroristas do arco-íris ameaçando pais e mães de família nem esquadrões Rainbow lançando bombas sobre bairros familiares. Os milhares de casamentos homossexuais que já se realizaram mundo afora e começam a ser feitos no Brasil em nada alteraram nem alterarão a vida dos casais heterossexuais.

Esses conservadores simplesmente ainda não aprenderam a viver em democracia e acham que conceitos religiosos devem reger estados laicos. Muitos gostariam, se pudessem, de trocar a constituição pela bíblia tanto na França quanto no Brasil. Mesmo os que se dizem não religiosos se saem com um samba do conservador doido e misturam o casamento homossexual, pleito de igualdade perante a lei (princípio liberal), com supostas armações comunistas, socialistas, esquerdistas, etc. a fim de destruir a civilização ocidental (sic).

Mas o pleito do casamento LGBT de fato conta com apoio de gente de diferentes doutrinas e ideologias, em várias partes do mundo, tanto entre os de esquerda, centro-esquerda, centro-direita, e até conservadores, como o premiê britânico David Cameron, além de alguns membros do partido republicano americano (para ficar nos exemplos mais conhecidos). Sobretudo, o casamento igualitário conta com o apoio da maior parte das pessoas de bom senso e de bom coração.

Abominação mesmo é ver gente fazendo manifestações não para reivindicar direitos ou protestar contra perda de direitos mas sim para protestar contra a igualdade de direitos, contra os direitos alheios. Neste último domingo, inconformados com os avanços democráticos que o presidente francês, François Hollande, resolveu encampar, os reaças se instalaram nos Campos Elísios, onde a manifestação estava proibida. A polícia teve que usar gás lacrimogênio e bastão para desalojá-los. Furiosos, muitos manifestantes pediram a demissão de Hollande e gritaram Liberté, Liberté!

Não tive pena deles. Não merecem respeito. E no dia 4 de abril, quando o projeto de lei sobre o casamento homossexual for analisado pelo senado francês, espero que o primeiro casamento homossexual a ser oficializado seja entre duas senhoras muito conhecidas dos franceses, Madames Liberté e Egalité (Liberdade e Igualdade), que alguns insistem em separar mas que realmente só funcionam se estiverem casadas.

Abaixo vídeo da manifestação dos conservadores contra a igualdade entre os seres humanos.

Com informações da EuroNews

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