Prefeito de Vicco, Johnny Cummings, prepara o cabelo de sua cliente Doris Shepherd no salão Scissors em Vicco, Kentucky (NYT) |
Pequena cidade no Kentucky adota lei anti-homofobia
Com 335 habitantes, Vicco aprovou medida para eliminar a discriminação contra qualquer pessoa com base na orientação sexual ou identidade de gênero
Em uma antiga sala de bilhar onde hoje fica a prefeitura de Vicco, uma cidade de 335 habitantes, foi realizada a reunião da Comissão da Cidade. Comissários e convidados sentaram-se em cadeiras enfileiradas, compradas com desconto, e dispostas ao redor de uma mesa de reunião. Era permitido fumar no local.
A Comissão aprovou a ata de sua reunião e contratou uma empresa de construção local para arrumar a planta de esgoto e discutiu sobre o toque de recolhimento. Ah, e ela também votou para eliminar a discriminação contra qualquer pessoa com base na orientação sexual ou identidade de gênero – tornando Vicco o menor município em Kentucky, e possivelmente do país, em ter aprovado uma medida sobre o assunto.
Temos que admitir: a votação da Comissão anti-homofobia parece estar em desacordo com as ambições desta pequena cidade localizada nos campos de carvão dos Apalaches, comprimida entre Sassafras e Happy. Por um lado, Vicco abraça sua reputação de ovelha negra - por ser um lugar que possui cerca de dez assassinatos não resolvidos, de acordo com os moradores da cidade. Por outro, foi no condado de Perry, onde quatro em cada cinco eleitores rejeitaram a reeleição de novembro do presidente Barack Obama .
Mas a votação de 3 a 1 da Comissão de Vicco não só antecipou um tema central no segundo discurso inaugural do presidente ("Nossa viagem não estará completa até que os nossos irmãos e irmãs homossexuais sejam tratados como qualquer outra pessoa sob a lei ..."), mas também apresentou um modelo legislativo para o Capitólio.
"Você discute, você chega em um consenso, você vota, e segue em frente", explicou o prefeito, Johnny Cummings, que administra um salão de beleza. "Você tem que se dar bem."
Cummings é um sobrenome bastante conhecido em Vicco. A mãe de Johnny Cummings, Betty, era uma professora. Hoje, ela sofre de demência e hoje passa a maior parte dos dias em seu salão. Seu pai, John, administrou vários negócios, incluindo um bar, e morreu de um golpe na parte de trás da cabeça, em 1990. Um dos assassinatos não resolvidos de Vicco.
Cummings é homossexual, algo que nunca escondeu e o tratamento rude dispensado a ele quando era adolescente não foi nada impossível de lidar. Após o colegial, ganhou uma bolsa de estudos para uma escola de beleza na Califórnia, mas voltou depois de dois meses. Apesar de ter vivido brevemente na Carolina do Sul, ele decidiu criar raízes em Vicco, onde, durante os últimos 25 anos, tem sido sócio de um salão chamado Scissors (Tesoura).
"Eu faço 20 viagens por dia" entre o salão e a Câmara Municipal", disse. "Neste momento eu estou cuidando de uma senhora que quer colorir seu cabelo."
Como prefeito, Cummings herdou uma cidade que não podia se dar ao luxo de deixar todas as suas luzes acesas. Além disso, 40% dos canos do sistema de água que gera dinheiro para a cidade através de vendas a clientes da região estavam vazando. "Como vou arrumar isso?", Cummings se lembra ter pensado. "Eu sou apenas um cabeleireiro."
Ele começou a fazer as pazes com agências do governo que há muito tempo haviam abandonado Vicco e contratou de volta um dos responsáveis pela manutenção que conhecia melhor do que ninguém os canos de água e como obter subvenções públicas para pagar o trabalho feito pela prefeitura. Agora, segundo ele, os canos reparados geram receita suficiente para contratar mais trabalhadores e restaurar a vida em Vicco.
Vicco foi um dos poucos municípios a receber um pedido no ano passado da Coligação Equidade, um grupo de defesa baseado em Kentucky para pessoas que são homossexuais, lésbicas, bissexuais ou transgêneros. Cummings tem uma irmã, Lee Etta, que participa na coligação. O pedido da coligação foi o de considerar a adoção de uma lei anti-homofobia.
Um advogado com visão para o futuro, Eric Ashley, diminuiu a proposta da coalizão de 28 páginas para apenas algumas páginas. Em seguida, o prefeito e a Comissão de quatro membros, todos homens heterossexuais, reuniuram-se em dezembro para uma primeira leitura e uma discussão que terminou com um voto de 4 a 0 a favor da lei.
Os comissários faziam perguntas e tiravam suas dúvidas e Ashley fez o seu melhor para responder todas elas. Mas um comissário, Tim Engle, que conhece Johnny Cummings desde pequeno, disse que precisava mudar seu voto. "Tim afirmou que, devido à sua religião, tinha que votar contra o decreto acima mencionado", disse um oficial que participou da reunião.
"Há vezes em que nós simplesmente não chegaremos a nenhum acordo, e por mim tudo bem", disse Engle, de acordo com o jornal local, o Hazard Herald. "Para isso existem os debates... é por isso que esse grupo está aqui. Eu quero que eles façam o acham certo e o que acreditam que precisa ser feito.”
Claude Branson Jr., 56 anos, um mineiro de carvão aposentado que faz parte da Comissão - e o único comissário, ele orgulhosamente observa, com um corte de cabelo mullet - disse recentemente que a presença de Cummings não foi um fator crucial na votação quanto uma "maior perspectiva do mundo". "Nós queremos que todos sejam tratados iguais e de maneira justa", explicou.
Por Dan Barry
Fonte: Último Segundo, via New York Times
Fonte: Último Segundo, via New York Times
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