Por Cassiane Chagas
Sabe o que mais me deixa pra baixo, péssima mesmo, em ser lésbica? Poucas pessoas acreditarem na minha união com minha companheira, principalmente minha família. Bom, mas também não é caso aqui de abrir o meu diário e contar as várias peripécias da minha vida, não mesmo.
O que quero dizer é que poucas pessoas me levam a sério como lésbica. É impressionante como todos os problemas da família são jogados, quase que diariamente, nas mãos da filha caçula e solteira... eu! Peraí, meu bem, solteira o caramba, tenho uma união estável há quase quatro anos. Como se dizer isso adiantasse alguma coisa...
Creio que isto já aconteceu com quase toda a irmandade lés, dos irmãos mais velhos da gente imaginarem que em um belo dia de sol a gente vai acordar de repente e dizer: “Nossa, a partir de hoje sou hétero”. Pelo amor dos meus coturnos... Eu vivo cercada de incertezas, não sei se até me aposentar vou ganhar a grana que pretendo, se vou fazer uma nova faculdade, se vou tingir o cabelo e de que cor... A única certeza que tenho na vida é que gosto de mulher e ponto!
Tudo bem, uma união estável por vezes pode não ser assim tão estável, pode haver conflitos, separações, brigas e depois retornos, mas não é por isso que o relacionamento entre mulheres deva ser encarado como algo banal, como uma brincadeirinha de meninas, como se não tivéssemos responsabilidade com nossas companheiras ou, ainda, como se fôssemos lésbicas só porque um dia um homem nos magoou, eca! Desculpem, mas para mim isso soa como ignorância.
Ok, não devo estar nos meus melhores dias, mas é que realmente sinto falta da porcaria de um documento para assinar, de uma festa para partilhar, de uma família que, querendo ou não, pelo menos assimila que agora você tem uma família, mesmo que ela não passe de duas pessoas e um cachorro. Acho que é isto, almejo a liberdade de poder estar oficialmente presa à pessoa que eu amo, só isso.
Ok, lindinhas, acho melhor eu entrar na fila e pegar a senha, porque afinal de contas quem não quer isso?
Cassiane Chagas, 28, é jornalista e radialista
Cassiane Chagas, 28, é jornalista e radialista
Publicado originalmente, no site Um Outro Olhar, em 24 de dezembro de 2010
como vc falou, Cassiane, é exatamente isso q acontece com quase todas nós lésbicas. Digo quase pq isso não acontece comigo, por incrível q pareça, mas com a minha esposa... Nossa! acontece demais e incomoda bastante. Espero, como vc, q um dia possamos ter um papel oficial pra assinar com direito a todas as regalias q isso possa trazer. bjs!
ResponderExcluirNossa, como é dificil! Pior ainda para mim e minha esposa que ainda não conseguimos abrir o jogo para nossas familias. Não é facil ser vista como solteira e que poder ou deve assumir todas as responsabilidades... Quem sabe um dia as coisas mudem. Acho que só depende de nós! bjus
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