Manuela Amaral |
Hoje há um pouco mais, contudo, preferimos deixar como referência o site Manuela Amaral In Memoriam de uma leitora, Tergon, que diz ter conhecido a poeta pessoalmente. Suas poesias são eróticas e belas. Confira abaixo.
MODELAGEM
Moldei meu corpo
à tua forma nua
e de nós duas
nasceram madrugadas
AMOR GEOMÉTRICO
Angulosamente ternas
goticamente nuas
somos a geometria do amor.
TERRA VIRGEM
Terra virgem onde desbravei caminhos
Terra aberta onde lancei sementes
Terra incendiada
Vulcão
Cratera
Terra-de-hoje
Símbolo de outras eras
Terra de ninguém que me pertence.
APOGEU
Mulher em minha cama
Mulher quase animal
Mulher que se transborda
que me sobra
e chega
Mulher deitada no meu corpo insónia.
MULHER DE MIM
Mulher secreta
direita ao meu encontro
Meu espasmo de infinito
Meu canto
quase grito
Mulher só-minha
inventada em espanto
PARA ALÉM DO AMOR
E muito mais importante do que o nosso orgasmo
é a ternura-depois
o ficarmos abraçadas
o não dizermos nada
o tomarmos um uísque
às cinco da manhã.
ACTO CRIADOR
Com gestos pagãos
dou forma-mulher
à tua estatura
e faço escultura
ao longo das mãos
Num golpe de mestre
renasço-te virgem
em obra criada
Já não és mulher
És só o fluido
que escorre de mim
ideia
vertigem
Depois uma fúria qualquer
começa a alastrar-se
em todo o teu corpo
Um vento selvagem
possui os teus braços
as pernas
o ventre
Um grito demente
percorre-te a voz
E és volúpia
o espaço
e a noite
POEMA VERTICAL
Abrimos os corpos. Rasgámos silêncios.
Na mesma vertigem nós fomos o espaço
Nós fomos a sede
Nós fomos a fonte
Abrimos distâncias. E tudo inventámos.
A vida e a morte num gesto de febre
subiam em compasso
em tempo de espera
E a luta
E a raiva
Nas nossa artérias um sangue mais quente
e o teu movimento em ritmo louco
E a minha renuncia de não ser mais eu.
De ser o teu corpo. De ser a tua carne
Baloiço de membros
de pernas e braços
Mulher que eu embalo
que guardo em meu ventre
que bebe de mim
a quem eu me dou
de quem me alimento
Mulher incarnada
na minha loucura
Um grito. Uma pausa. Um gesto mais lento.
E a vida a esvair-se
num estertor da morte
Depois o cansaço no espasmo da noite
E nós renascidas
E livres no tempo.
AUTO DE FÉ
Não me
arrependo dos amores que tive
dos corpos de mulher por quem passei
a todos fui fiel
a todos eu amei
Não me arrependo dos dias e das noites
em que o meu corpo herói ganhou batalhas
A um palmo do umbigo eu fui primeira
a divina
a deusa
a verdadeira mulher - sem rival
Amei tantas mulheres de quem nem sei o nome
eu só me lembro apenas
de abraços
de pernas
de beijos
e orgasmos
E no amor que dei
e no amor que tive
eu fui toda mulher - fui vertical.
Eu fui mulher em espanto
fui mulher em espasmo
fui o canto proibido e solitário
Só tenho um itinerário Amor-Mulher
São lindos..são ótimos Tem um embalo quase que embriagante.
ResponderExcluiro site Manuela Amaral In Memoriam tem actualizações com fotos Vão ver
ResponderExcluiro site Manuela Amaral In Memoriam tem actualizações com fotos Vão ver
ResponderExcluirExtremamente lindo.
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