Autora: Míriam Martinho
De vez em quando aceito um daqueles convites tipo “Fulana de Tal quer ser sua amiga no ...”, ou “beltrana convidou você para participar da comunidade ou grupo X no ....” ou ainda eu mesma ponho um anúncio nos sites que tem classificados a fim de fazer amizade e trocar umas palavras. Nessas, no pouco tempo que tenho para tais coisas, até consegui bater uns bons e divertidos papos furados com algumas mulheres dos 4 cantos desse nosso Brasil cor de anil.
De vez em quando aceito um daqueles convites tipo “Fulana de Tal quer ser sua amiga no ...”, ou “beltrana convidou você para participar da comunidade ou grupo X no ....” ou ainda eu mesma ponho um anúncio nos sites que tem classificados a fim de fazer amizade e trocar umas palavras. Nessas, no pouco tempo que tenho para tais coisas, até consegui bater uns bons e divertidos papos furados com algumas mulheres dos 4 cantos desse nosso Brasil cor de anil.
No geral, contudo, a experiência é meio frustrante porque a maioria das lésbicas vive em estado permanente de caça, caça para ficar, caça para casar, e amizade simplesmente - que é bom – nada. Aliás, a palavra amizade, para a maioria das lésbicas, parece ser uma espécie de código que significa na verdade que você está em temporada... de caça.
Se não, me digam, por que haveria alguém que está apenas em busca de amizade querer saber se você é feminina, masculina ou andrógina? Nas primeiras tecladas com uma dessas caçadoiras enrustidas, pois dizia que estava em busca de amizade, um bom tempo da conversa girou em torno de saber a minha aparência física, não se eu era gorda ou magra, alta ou baixa, mas sim se eu pintava os cabelos e as unhas, fazia a sobrancelha, usava batom, saia e sapato de salto porque ela fazia tudo isso e assim é que apreciava uma outra mulher.
Convenhamos que, quando nossa busca é por uma parceira sexual ou amorosa, para ficar ou casar, até que requisitos como os citados acima podem fazer uma boa diferença. Eu mesma não tenho tesão pelo masculino seja em homens seja em mulheres. O masculino me evoca várias coisas, a maioria delas positivas, mas não me atrai sexualmente. Meu lugar do desejo é mesmo o feminino naturalmente nas mulheres mas até em homens (certa vez me peguei impressionada por uma travesti super-feminina...rsss). Não falo do feminino tipo perua, pois não me agrada muito a estética over, mas o feminino light, discreto e charmoso.
Agora, quando o assunto é amizade, o que me interessa é se a mulher em questão é boa pessoa, se tenho afinidades com ela, de gostos, de humor. Nesse sentido, tanto faz sua aparência, se a figura é feminina, masculina, andrógina, se é negra, branca, oriental, alta, baixa, destra ou ambidestra, subaquática....
Na verdade, essa busca de mulheres femininas, até para simples amizade, tem muito a ver com o preconceito contra a visibilidade das mulheres masculinizadas, visibilidade lésbica, que fique claro, e também com a necessidade de se encaixar num papel mais palatável aos olhos heterossexuais. Para as enrustidas, que ainda há aos montes, uma butch é uma saída do armário a ser evitada. Para as normalizadoras, uma butch incomoda porque não se encaixa no modelito feminista da igualdade entre os pares que, transportado do terreno da cidadania para o da sexualidade, resulta simplesmente desastroso, pois preconiza que as parceiras têm que ser iguais na cama e no visual, em outras palavras, ambas femininas.
Tive uma colega butchezinha que tinha uma namorada bem femme e que, na cama, adorava os papéis assim bem divididos, mas que, no social, morria de vergonha do caso. Daí que na rua elas fingiam que não se conheciam, pois a moça não queria ser vista com aquela bandeira ambulante que era sua amante butch. O mais tristemente engraçado é que essa minha colega butch aceitava essa situação humilhante. Tá certo que a menina era uma gatinha, mas gatinhas existem muitas e com uma cabeça bem melhor.
Então, tanto nos discriminaram e não aprendemos nada com isso? Na hora do vamos ver, também discriminamos? Que maus! Deixemos disso e retomemos o aprendizado do respeito a todas as identidades lésbicas existentes, das sapatilhas às sapatonas, das entendidas às lésbicas politizadas, lembrando que, como diz o ditado, principalmente quando o assunto é amizade, quem vê cara não vê coração.
nossa...que lição...para as preconceituosas..
ResponderExcluirparabéns...adorei..
sou feminina mas não sou o tipo perua..e tenho uma namorada butch..saímos de mãos dadas na rua, temos troca de carinhos em público e nos beijamos no portão quando ela me deixa em casa claro tudo com muito respeito a outras pessoas pq se vc quer respeito tem que dar tb..sem grilos ou vc é e assume ou vc se esconde e vive em seu mundinho de preconceitos..comigo isso não rola não...sou livre leve e solta quanto as amizades o que importa é o que vem de dentro da pessoa sua cabeça..seu coração..=]
suave seja sua noite!!
bjos...no coração
Sabe que poucas vezes consegui encontrar palavras que dissessem tanto em tão poucas linhas?
ResponderExcluirAcredito que vc conseguiu condensar todo um jeito de pensar.
Tb detesto as convenções de quem se exclui e esquece que é excluído, prefiro a discriminação dos diferentes do que a dos iguais, esta, sem dúvida, me irrita muito mais.
Cheguei no seu blog assim, sem saber como, mas me encontrei nas suas palavras.
A tempo, amizade é tudo de bom, não importa tanto a história de como acontece, mas é uma coisa rara, difícil mesmo de se encontrar, independente da cara que tenha o amigo ou a amiga.
Lutando por um mundo mais humano foi muito bom ler suas palavras!
Menina Lua
olá!
ResponderExcluirEu concordo e assino embaixo com o seu texto, acrescentando ainda que, tem uma grande quantidade de lésbicas que [in]conscientemente tentam reproduzir o papel da relação heterosexual imposto pela sociedade. Essa figura da Butch que só namora femmes e que tem esse tipo de relação sexual com divisão de papéis me incomoda muito. Parece-me uma forma de continuar a permitir o machismo e preconceito na sociedade. Sabe aquela velha história: " ah mas qual será que é o homem?"
Sou feminina, mas não perua e minha namorada tb. Tem dias que a gente está mais andrógina no jeito de se vestir, outros mais femininas. Não gosto de padrão, curto mesmo é ser versátil e ter uma mulher igualmente versátil ao meu lado.
ops, falei demais né? rs
beijinho
O que me incomoda nas lésbicas(sejam femininas ou masculinas), nos homens, nas mulheres, nos gays, enfim....é o machismo, isso me dá nojo. E infelizmente a grande maioria das lésbicas masculinas que EU conheci eram um tanto machistas, algumas extremamente machistas. As referencias de homens que eu tenho(pai e irmãos) são de homens modernos,civilizados,
ResponderExcluirseguros... não precisam de ser machistas para afirmar a masculinidade.