O Dia Seguinte

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O Dia Seguinte
autor(a): Diedra Roriz


Acordou suada e esbaforida. O coração acelerado, dando pulos dentro do peito.

Passou a mão nos cabelos, tentando inutilmente retirar a lembrança que ainda parecia pregada às retinas.

Um pênis enorme, vindo em direção a ela, duro e erguido.

O mais horrível pesadelo que já havia tido.

Pior... E mais inquietante por que... Sequer despertava uma sensação inteiramente ruim.

Mas deveria.

Era preciso!

Ergueu as cobertas, descobrindo que estava completamente nua. E sem saber como havia se despido ou sido despida.

Seria possível?

Forçou a mente, apertando as têmporas com os dedos...

Nada.

Nem um mísero resquício.

Como se a memória houvesse sido apagada, qual filme de ficção científica.

Pegou o travesseiro para esmagá-lo entre as duas mãos - numa tentativa infantil, mas bastante eficaz de extravasar a frustração que sentia – e deu um grito.

Debaixo dele a prova concreta: uma cueca. Supostamente esquecida.

Pulou para fora da cama com as mãos cobrindo a boca, a surpresa mantendo os olhos ampliados e a respiração desesperada e arredia.

Vestiu uma camiseta, um short e uma calcinha.

Colocou a cabeça para fora da porta do quarto, tentando descobrir se Bia - a amiga com quem dividia o apê - estava ou havia saído.

Um alívio incomensurável ao perceber que se encontrava sozinha.

Precisava agir rápido. Eliminar a prova do crime.

Correu descalça, tropeçando até a cozinha.

Vasculhou as gavetas até finalmente encontrar o que queria.

Brandindo o garfo imenso de churrasco nas mãos, como um tridente de Netuno enfurecido, caminhou resolutamente até a cama, repetindo para si mesma:

- Calma... Respira... Devagar... … só uma cue...

Parou por aí.

Para conter a muito custo a ânsia de vômito que subia.

Precisou de uma concentração incrível para conseguir pescar a peça de roupa na pontinha do garfo - a repulsa mantendo o braço esticado para manter a maior distância possível – e jogá-la na privada pensando:

- Preciso me livrar disso!

Deu a descarga.

A peça infame desceu, mas a água subiu, regurgitada pelo cano entupido.

Imaginou o encanador tirando a causa do entupimento dali, com um sorriso lascivo... Bia ao lado dele com um esgar de decepção no rosto, recriminando:

- Nunca esperaria isso de você. Tudo, menos isso.

Enquanto ela própria dizia:

- Juro que não sei o que aconteceu... Não sei o que houve! Eu nunca faria isso!

Quando deu por si, estava ajoelhada no chão frio do banheiro, as mãos unidas em súplica:

- Me perdoa! Não sei o que fiz!

Levou alguns minutos para entender que estava sozinha.

Correu de volta para o quarto, pegou o celular na mesinha de cabeceira e fez a única coisa que poderia: ligou para a analista. Com uma ansiedade extrema, esperou o toque cessar na secretária eletrônica.

Venceu sem esforço a repulsa que sentia da frieza da maquininha. A urgência era muito maior do que qualquer tipo de pudor ideológico, ou como a irmã definia:

- Frescura, Maurinha!

Deixou um recado sucinto:

- Alô? Ana Cecília? … Maura. Preciso que você me atenda hoje. … um caso de vida ou morte. Estou surtando aqui.

Desligou ainda incessantemente intranquila.

Ficou andando de um lado para o outro na cozinha.

Implorou mentalmente, numa prece que se repetia:

- Que ninguém fique sabendo! Que ninguém tenha visto!

Caso contrário, o que diria? Como explicaria?

Não havia desculpa para aquilo.

Seria execrada, afastada, banida.

Para sempre taxada, apontada como:

- Aquela que dormiu com um carinha!

Estava assim, imaginando as caras de reprovação, as amigas lhes dando as costas, toda uma vida perdida, quando viu a porta abrir para dar passagem a Bia.

Jogou-se aos pés da amiga. Agarrada às pernas dela, aos prantos, gritou numa mea culpa arrependida:

- Perdão! Eu juro que não queria! Não sei o que deu em mim!

Bia ficou parada, absolutamente fria.

Olhou para Maura exatamente como esta havia imaginado: decepcionadíssima.

E disse:

- Tudo bem. Mas da próxima vez que você chegar bêbada em casa, como uma gata no cio, não conte comigo, nem com a minha cueca, muito menos com o meu brinquedinho.

3 comentários:

  1. Ana Paula Vieira de Oliveira15 de fevereiro de 2012 às 18:30

    ai q susto!imagine só a situação, ter q encarar os amigos depois de um estado inconsciência e embriagues. adorei a historia!

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  2. Interessante seu conto.Realmente prende o leitor até o final. Confesso que apesar de ter visto as ceninhas, não imaginei o final.

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  3. Parabéns pelo post .
    Faço das palavras das meninas as minhas.

    Gostei da historinha ;)

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