O Dia Seguinte
autor(a): Diedra Roriz
Acordou suada e esbaforida. O coração acelerado, dando pulos dentro do peito.
Passou a mão nos cabelos, tentando inutilmente retirar a lembrança que ainda parecia pregada às retinas.
Um pênis enorme, vindo em direção a ela, duro e erguido.
O mais horrível pesadelo que já havia tido.
Pior... E mais inquietante por que... Sequer despertava uma sensação inteiramente ruim.
Mas deveria.
Era preciso!
Ergueu as cobertas, descobrindo que estava completamente nua. E sem saber como havia se despido ou sido despida.
Seria possível?
Forçou a mente, apertando as têmporas com os dedos...
Nada.
Nem um mísero resquício.
Como se a memória houvesse sido apagada, qual filme de ficção científica.
Pegou o travesseiro para esmagá-lo entre as duas mãos - numa tentativa infantil, mas bastante eficaz de extravasar a frustração que sentia – e deu um grito.
Debaixo dele a prova concreta: uma cueca. Supostamente esquecida.
Pulou para fora da cama com as mãos cobrindo a boca, a surpresa mantendo os olhos ampliados e a respiração desesperada e arredia.
Vestiu uma camiseta, um short e uma calcinha.
Colocou a cabeça para fora da porta do quarto, tentando descobrir se Bia - a amiga com quem dividia o apê - estava ou havia saído.
Um alívio incomensurável ao perceber que se encontrava sozinha.
Precisava agir rápido. Eliminar a prova do crime.
Correu descalça, tropeçando até a cozinha.
Vasculhou as gavetas até finalmente encontrar o que queria.
Brandindo o garfo imenso de churrasco nas mãos, como um tridente de Netuno enfurecido, caminhou resolutamente até a cama, repetindo para si mesma:
- Calma... Respira... Devagar... … só uma cue...
Parou por aí.
Para conter a muito custo a ânsia de vômito que subia.
Precisou de uma concentração incrível para conseguir pescar a peça de roupa na pontinha do garfo - a repulsa mantendo o braço esticado para manter a maior distância possível – e jogá-la na privada pensando:
- Preciso me livrar disso!
Deu a descarga.
A peça infame desceu, mas a água subiu, regurgitada pelo cano entupido.
Imaginou o encanador tirando a causa do entupimento dali, com um sorriso lascivo... Bia ao lado dele com um esgar de decepção no rosto, recriminando:
- Nunca esperaria isso de você. Tudo, menos isso.
Enquanto ela própria dizia:
- Juro que não sei o que aconteceu... Não sei o que houve! Eu nunca faria isso!
Quando deu por si, estava ajoelhada no chão frio do banheiro, as mãos unidas em súplica:
- Me perdoa! Não sei o que fiz!
Levou alguns minutos para entender que estava sozinha.
Correu de volta para o quarto, pegou o celular na mesinha de cabeceira e fez a única coisa que poderia: ligou para a analista. Com uma ansiedade extrema, esperou o toque cessar na secretária eletrônica.
Venceu sem esforço a repulsa que sentia da frieza da maquininha. A urgência era muito maior do que qualquer tipo de pudor ideológico, ou como a irmã definia:
- Frescura, Maurinha!
Deixou um recado sucinto:
- Alô? Ana Cecília? … Maura. Preciso que você me atenda hoje. … um caso de vida ou morte. Estou surtando aqui.
Desligou ainda incessantemente intranquila.
Ficou andando de um lado para o outro na cozinha.
Implorou mentalmente, numa prece que se repetia:
- Que ninguém fique sabendo! Que ninguém tenha visto!
Caso contrário, o que diria? Como explicaria?
Não havia desculpa para aquilo.
Seria execrada, afastada, banida.
Para sempre taxada, apontada como:
- Aquela que dormiu com um carinha!
Estava assim, imaginando as caras de reprovação, as amigas lhes dando as costas, toda uma vida perdida, quando viu a porta abrir para dar passagem a Bia.
Jogou-se aos pés da amiga. Agarrada às pernas dela, aos prantos, gritou numa mea culpa arrependida:
- Perdão! Eu juro que não queria! Não sei o que deu em mim!
Bia ficou parada, absolutamente fria.
Olhou para Maura exatamente como esta havia imaginado: decepcionadíssima.
E disse:
- Tudo bem. Mas da próxima vez que você chegar bêbada em casa, como uma gata no cio, não conte comigo, nem com a minha cueca, muito menos com o meu brinquedinho.
ai q susto!imagine só a situação, ter q encarar os amigos depois de um estado inconsciência e embriagues. adorei a historia!
ResponderExcluirInteressante seu conto.Realmente prende o leitor até o final. Confesso que apesar de ter visto as ceninhas, não imaginei o final.
ResponderExcluirParabéns pelo post .
ResponderExcluirFaço das palavras das meninas as minhas.
Gostei da historinha ;)