Horóscopo de Abril (2024)

domingo, 7 de abril de 2024 0 comentários

Baseado em freebie de Sebastiano Guerriero

 ♈ ÁRIES
21/03 a 20/04

O seu lado profissional poderá exigir muito de sua dedicação, além do normal, mas procure fazer as coisas dentro do seu ritmo.

A sua  relação afetiva  anda com altos e baixos talvez porque o entendimento com a sua parceira não seja o melhor. Ela pode estar bastante desorientada e num período de mudança.

Você poderá sentir-se confiante na sua liberdade, mas se deseja estabilizar a sua relação precisa ser paciente enquanto a sua companheira decide aquilo que quer na realidade.

Por volta da segunda semana do mês, a sua vida amorosa vai entrar numa fase mais calma. Poderá dar total apoio para sua parceira , especialmente porque vai conseguir ver a  questão com bastante senso de humor.

As sua vida financeira vai estar numa fase positiva e juntamente com o sua parceira vai poder fazer alguns investimentos. Poderão construir algo juntas.

Sua saúde pede atenção na área respiratória, poderá estar sujeita a infecções com mais facilidade do que antes, porém, nada grave.


♉ TOURO
21/04 a 20/5

Seu ambiente profissional poderá se tornar monótono ou você sentirá uma vontade intensa de mudar de setor, empresa ou iniciar algum curso novo.

Por volta do dia 8, terá a possibilidade de sucesso em exames, estudos e também em assuntos relativos à lei e a contatos com o estrangeiro. É um período de otimismo crescente e de realismo também.

Terá a sorte de conseguir estabelecer uma base sólida com a sua parceira. Poderá haver mudanças bastante positivas no seu estilo de vida que lhe permitirão manifestar a sua força e poder executivo. Agora é tudo uma questão de ser corajosa e não hesitar em questões pessoais ou amorosas.

A Lua Nova do dia 8 vai dar um novo enfoque a esta fase da sua vida em que a sua pessoa vai estar em primeiro plano e cheia de energia.

Viagens e estudos estão previstos. É ainda um pouco cedo para prever resultados, pois parece que tudo agora se prepara para uma nova fase.

O amor também está favorecido e terá muito a dar a sua parceira que provavelmente retribuirá à altura. 


♊ GÊMEOS
21/05 a 20/06

Todas as oportunidades apontam para o sucesso profissional. Terá sorte com os projetos agora iniciados, e isso vai abrir caminho para novos rumos criativos.

A partir do dia 8, vai obter bastante progresso na sua visão estratégica e uma parceria poderá ajudá-la a realizar os seus planos. O enfoque vai para uma transformação profunda da sua posição que a deixará entusiasmada.

Pode querer viajar para outros países, uma vez que os seus sonhos criativos em muito ultrapassam os limites normais.

Poderá esperar um por mês dinâmico e frutífero. Não hesite em ir até ao cerne das questões e em defender os seus direitos.

No que toca ao amor, está num período de calma e de estabilidade que lhe permite gerar crescimento e segurança.

 É um ambiente perfeito na relação amorosa, pois possibilita formalizar e aprofundar algo entre ambas, sendo a melhor altura por volta do dia 10.

E caso tenha alguém em vista também por volta dessa data poderá haver um desenvolvimento positivo.


♋ CÂNCER
21/06 a 22/07

Haverá um desenvolvimento caloroso e dinâmico no ambiente familiar. E, neste aspecto, tudo leva a crer que planos antigos podem finalmente ser realizados. Se estiver numa relação, vai notar que a sua cara-metade vai andar com mais energia.

A sua vida amorosa está num período estável. Depois de um período de alguma exaustão vai conseguir redescobrir a força e conseguirá vislumbrar a luz no fim do túnel no que diz respeito a projetos e planos.

O desenvolvimento pessoal tem sido caracterizado por muitos desafios, e as alterações de humor, esgotantes. Esta tendência vai terminar agora.

O contato com colegas e amigos vai alegrar seu caminho e mostrar um novo rumo lá para o final do mês.

Anda à procura de um novo trabalho e esta é a melhor altura para fazer algo nesse sentido.

 A Lua Nova traz consigo uma nova época para você e para os seus familiares. Um espírito pioneiro vai motivá-la a dar novos passos em novas direções.

 Este futuro capítulo da sua vida está cheio de potencial e, por enquanto, ainda não há previsão de onde pode ir parar. Mas há novos ventos de esperanças e de bonança. 


♌ LEÃO
23/07 a 22/08

Uma situação familiar ou relacionada à casa exigirá que se manifeste com poder e determinação. Assuntos que podem aborrecê-la exigem agora que avance com determinação. Na verdade, um ultimato pode ser a medida adequada.

A partir do dia 9, começa um novo período em que os projetos criativos e o romance se tornarão os aspectos mais relevantes para você. Poderá agora se esquecer de todas as tarefas pesadas e começará a divertir-se, dando mais tempo às suas ideias.

É difícil compreender na totalidade o que estará acontecendo  na sua vida amorosa. Você olha para o assunto de uma forma muito emotiva e instintiva; a outra pessoa é bem mais racional. Você gostaria de mais romance, mas da outra parte há uma certa reserva nesse sentido. É uma forma estranha de amar mas a relação é consumada mesmo assim.

 As palavras empolgam a situação e por isso concentre-se nos seus talentos de sedução e não se deixe levar por discussões desnecessárias. 

♍ VIRGEM

23/08 a 22/09

Poderá sentir nesse período que  velhos padrões não  farão mais sentido em sua vida estando prevista uma transformação  em seu comportamento e na forma de se relacionar com as pessoas.

 Tal mudança vai dar resultados positivos e por volta da segunda quinzena  do mês poderá  encontrar alguém interessante que a deixará muito encantada. Sentirá uma afinidade muito natural  e o diálogo fluirá naturalmente entre vocês.

 Caso esteja envolvida em uma relação estável, é provável  que ela evolua de uma forma mais carinhosa onde o diálogo servirá para esclarecer antigas mágoas.

Em termos profissionais há muita gente interessada nas suas capacidades e vão dar apoio às suas opiniões e atitudes. Valerá a pena envolver-se com parceiros criativos, que tenham aptidões e que sejam dinâmicos. Estão a caminho novos projetos, especialmente por volta do dia 17 e poderá assim começar a esboçar novas visões e planos.

No setor familiar a tendência é de grande harmonia e  alegria nos encontros. No setor ligado a saúde, opte por atividades nas quais se sinta  realmente à vontade para experimentar, não adianta iniciar algo apenas por modismo e não dar continuidade.                                     

♎ LIBRA
23/09 a 22/10

Durante esse mês uma  transformação numa relação pode ser importante e vai colocá-la numa posição mais forte e estável. Talvez tenha que assumir um compromisso maior em um relacionamento já existente ou sinta vontade de mudar o que a está incomodando.

Poderá haver preocupações relativas a ligações em que sente necessidade de maior liberdade. As mudanças estão a caminho, e é importante que se concentre em si mesma e que seja você quem dita as regras.

Depois do dia 11, começa um novo período em que vai estar especialmente independente e dinâmica. Há uma série de novidades em curso relativas à família e à sua vida interior. Vai dar prioridade à sua harmonia pessoal. Ainda assim, este é um período com algum erotismo. e a atração vai pairar no ar.  Aproveite-a e viva intensamente.

Na segunda quinzena,  uma relação existente poderá intensificar-se e reacender antigas chamas. Surgirá uma nova consciência que vai levar a um novo rumo e também a uma maior força em seus empreendimentos. As relações serão  mais saudáveis e os projetos em que está envolvida lhes serão mais satisfatórios. 

♏ ESCORPIÃO
23/10 a 21/11


Ainda que esteja numa posição favorável, no início do mês os problemas familiares poderão ser bastante chatos. É você quem tem os recursos, portanto, não dê ouvidos a críticas pessoais. Aquilo que os mais fracos procuram fazer não deve afetá-la.

Ao mesmo tempo há sonhos e ilusões relativos à profissão que a preocupam. Deverá encontrar um equilíbrio entre o que deseja e o que agora é possível, pois terá que reorientar-se.

Por volta do dia 12, estará pronta para um abrir outro capítulo. As suas capacidades comunicativas vão ser cruciais quando surgir uma nova e motivante situação. Haverá um especial enfoque em relações internacionais e em sinergias cooperativas.

Se estiver numa relação afetiva, é possível que neste período os interesses mudem e seja necessária uma reavaliação da meta em comum. A sua parceira pode pensar que está muito distante, e você sente que precisa de mais espaço e de independência.

 Mas dar mais atenção e mais intimidade talvez não seja uma má ideia. A sua cara-metade parece ter um universo mental totalmente diferente do seu, e você terá que adaptar-se se procura mais entendimento. É um período de testes para as relações. 

♐ SAGITÁRIO
22/11 a 21/12

Haverá muita agitação no plano profissional e é provável que sinta vontade de agir com atitudes agressivas.  A tendência é ser extremamente impulsiva, mas valerá a pena agir com mais calma, especialmente se não estiver apta a ditar a última palavra.

Uma pessoa forte e simpática vai estar por perto e, como tal, é bom ouvir o seu conselho. Pode ser que consiga mudar ou simplificar os seus planos de carreira. As mudanças estão a caminho como resultado de um longo período de transformação.

A partir do dia 11, um novo dinamismo tem início. Poderá tornar-se protagonista num certo grupo e, por volta do dia 21, estar apta a controlar uma situação.

Novas relações cooperativas estão a caminho e vai conseguir por as suas ideias em prática. O que antes era uma transição difícil agora transforma-se num período em que tudo cresce e floresce naturalmente. E o mesmo acontecerá em sua vida social com as amizades em grande plano. 

É possível que se apaixone por volta do dia 18 quando aparecer uma certa garota, divertida e inteligente que a cativará. As chances de uma bela sintonia são grandes, por isso não desperdice tempo. Se quiser causar boa impressão passe à ação. Caso esteja numa relação, haverá desenvolvimentos encorajadores.

♑ CAPRICÓRNIO
22/11 a 19/01

Embora tenha agido da melhor forma, um certo número de desafios permanece no início do mês. Eles podem estar relacionados com suas economias ou com a relação com uma amiga. Está no bom caminho, portanto não se deixe influenciar pelo ego ferido dos outros.

Uma amiga pode estar em dificuldade, sentindo-se pra baixo, mas você deve mensurar bem sua solidariedade para não se sobrecarregar. Terá muitos assuntos pendentes e é importante que dê prioridade aos mais urgentes. Terá boa chance de obter bons resultados num exame e conseguir expressar-se muito bem. O segredo para tal é a preparação, a independência e o empenho intelectual.

Se planeia viajar, haverá encontros com pessoas exóticas, e a sua rede de conhecimentos estará em expansão. É um período entusiasmante com o mundo aos seus pés.

É possível que se apaixone por volta do dia 18 quando aparecer uma certa garota, divertida e inteligente que a cativará. As chances de uma bela sintonia são grandes, por isso não desperdice tempo. Se quiser causar boa impressão passe à ação. Caso esteja numa relação, haverá desenvolvimentos encorajadores. 

♒ AQUÁRIO
20/01 a 18/02

Neste mês, grande enfoque na comunicação, na escrita e nos contatos em geral. Tem muito para fazer, e há muitas iniciativas em curso.

Poderá trabalhar numa nova parceria cooperativa com uma pessoa forte cuja luz será um incentivo. Juntas poderão dar passos rumo a um objetivo de sucesso.

Há algumas pessoas que vão requerer a sua ajuda e, ainda que não seja você quem decide como as coisas vão evoluir, poderá embarcar nessa onda de energia revigorante que agora se apresenta.

A sua relação com a parceira  poderá florescer agora, especialmente porque ela se sente bem e está mais confiante na relação.

 O amor é estável e alguns rituais poderão contribuir para tal. Se estiver só este é o momento em que pode se apaixonar, especialmente por volta do dia 10. Essa é a data para as melhores investidas.

Poderá fazer viagens, pois haverá vontade de explorar novos territórios com a sua amada. Haverá também um período agradável e criativo na relação com crianças de modo geral.

♓ PEIXES
19/02 a 20/03

Depois de um período social agitado, estará agora mais meditativa e introspectiva. Sentirá uma necessidade de ficar mais quieta, refletindo sobre seus projetos futuros. A comunhão com a Natureza e cultivar interesses espirituais e criativos vão ao encontro dessa necessidade.

Os sentimentos, as sensações e a intuição são os elementos que a motivam, e a sua dinâmica normalmente estará em modo de espera. Precisa  recarregar as baterias.

É possível que surja uma atração amorosa e um encontro com alguém irresistível por volta do dia 23. Mas as diferenças entre ambas são grandes e terão que encontrar formas de coexistir para evitar confrontos.

A solução é cultivar a paciência, pois a intensa atração física valerá investir na capacidade para o diálogo. No final do mês, conseguirá seguir o seu rumo, mas não tanto que motive distanciamentos

Com a sua crescente energia, poderá lutar por aquilo que quer. Vai ser fácil para você se focar nos seus objetivos pessoais.

Não tenha medo de seguir em frente, mesmo que  possa parecer dificil. Num equilíbrio justo entre o sonho e a realidade, vai conseguir alcançar seus objetivos de carreira. 


Miriam Julie
Gunadhara Miten (Miriam Zen)

Terapeuta Holística e Astróloga Humanista há 33 anos, trabalhou como voluntária por vários anos em Grupos de Ajuda a mulheres que sofreram abuso. Trabalhou também como voluntária no CVV (Centro de Valorização da Vida)

Trabalhando atualmente com massagens terapêuticas, via Método Deva Nishok, utiliza em seus atendimentos terapia tântrica, cura Reconectiva, Reiki, pontos marma, meditação vibracional biodinâmica, Renascimento, terapia taoísta, terapia de cura hawaiana, Barra de Access, MTVSS com o objetivo de refinar a sensibilidade corporal, gerando maior sustentação da bioenergia do corpo, energização dos chackras e equilíbrio da produção hormonal, proporcionando também expansão da consciência, equilíbrio emocional e bem-estar.

Consultora da Rede de Informação UOO (Um Outro Olhar).

Para agendar sua sessão de mapa, tarot, de massagem terapêutica, entre em contato no whats app: 11 96405 1934  Email: miriam.julie@gmail.com


ChanacomChana 11: resgate e edição comentada

sexta-feira, 22 de março de 2024 0 comentários

CCC 11out.-jan. 1986/7 © Coleção Chanacomchana. Míriam Martinho


Em dezembro de 1982, era lançado o primeiro número do boletim Chanacomchana seguido de outros 11 números (ver resgate do CCC 1 aqui, CCC2 aqui, CCC 3 aqui, CCC 4 aqui, CCC 5 aqui, CCC6 aqui, CCC 7 aqui, CCC 8 aqui, CCC 9 aqui, CCC 10 aqui). Neste artigo, abordo o ChanacomChana 11, não sem antes falar do contexto histórico e político de onde o periódico emerge, fundamental para entender sua produção e conteúdo (ver mais informações em Memória Lesbiana: 41 anos de ChanacomChana  aqui).

O Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF) e sua primeira publicação, o boletim Chanacomchana, nascem durante o primeiro ciclo do MHB (Movimento Homossexual Brasileiro) também chamado de ciclo libertário (78-83/84) porque nele prevaleciam as ideias da Contracultura, aquele grande guarda-chuva de movimentações e movimentos socioculturais e comportamentais que se inicia já nos anos 50, percorre as décadas de 60 e 70, terminando no início dos anos 80. Retomando elementos do anarquismo e do romantismo, a Contracultura vai priorizar a revolução individual, politizando o cotidiano e as inter-relações humanas (o privado é político) e retomando a máxima gandhiana de que as pessoas tinham que se tornar a mudança que queriam ver no mundo. Não havia interesse na tomada de poder do Estado, objetivo dos partidos políticos, mas sim na revolução molecular dos grupos discriminados e oprimidos que unidos superariam a incompetência da América católica e seus ridículos tiranos (Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval - Caetano Veloso).

Na prática, os grupos daquele incipiente movimento se preocupavam com a não reprodução da política tradicional, suas hierarquias, disputas de poder, discursos da boca para fora, e tentavam (com pouco sucesso) não reproduzir suas mazelas. Nesse sentido também, pregavam a autonomia dos movimentos sociais em relação aos partidos políticos, uma das bandeiras de maior bom senso daquela época. O GALF era tributário dessas ideias (vide o texto Autonomia), via esquerda libertária, das ideias do feminismo de segunda onda, com seu questionamento dos papéis sexuais, e das correntes do separatismo lésbico do também incipiente movimento lésbico internacional.

A Revolução DIY
Todo esse amálgama de ideias e inspirações aparecem nas páginas do Chanacomchana do seu período inicial e nele permanecem no período posterior, de 1985 em diante, apesar do afã revolucionário contracultural do MHB ir sendo paulatinamente substituído pelo reformismo pragmático de grupos como o GGB e o Triângulo Rosa.

Também do ponto de vista gráfico, o CCC vai seguir a ética e a estética contracultural do "Do It Yourself - DIY" (Faça você mesmo) matriz, entre outras produções, dos fanzines produzidos artesanalmente, com colagens e mistura de tipos gráficos, e, no conteúdo, com uma miscelânea de textos políticos, tirinhas, desenhos, poesias, depoimentos, notícias e app arcaico de namoro (o Troca-cartas). Nas vendas, o corpo a corpo junto ao público-alvo ou, posteriormente, via correios através do sistema de associação.

Nem o GALF nem o ChanacomChana refletem qualquer luta contra a ditadura militar mesmo porque seu contexto histórico é o do governo da abertura do general Figueiredo, da redemocratização, que se iniciara com a revogação do AI-5 em 13/10/78, ainda sob o governo Geisel. De fato, o governo Figueiredo foi uma democratura, uma convivência de elementos ainda autoritários do regime em decomposição com aumento crescente de características democráticas caminhando a passos largos para o restabelecimento do poder civil. Embora a censura, só revogada com a Constituição de 1988, ainda existisse no período, ela não vitimou o GALF ou o ChanacomChana em momento algum. Tal fato pode ser constatado facilmente pela simples leitura dos Chanas onde não se encontram sequer informes referentes ao regime militar, muito menos registro de qualquer arbitrariedade que tenhamos sofrido dos militares. O GALF e suas publicações foram, de fato, insurgências contra a ditadura da heterossexualidade obrigatória praticamente onipresente do período.

Chanacomchana nº 11 – Edição comentada

 Sumário

  Editorial
  8º Encontro Nacional Feminista - p.1 
  Labrys - p. 6
  Poesia - p. 7
  Dicas de leitura - p. 8
  Nossos Direitos - p. 10
  Entrevista com candidatas - p. 11
  Em Movimento - p. 23
  É assim mesmo - p. 26
  Outras Mulheres - p. 28
  Troca-Cartas - p. 30


Editorial (Míriam Martinho)

Neste 11 número do ChanacomChana, eu começo o boletim com o sumário do mesmo e uma apresentação de seus objetivos, um processo que comecei com o número 10 e repetirei ainda em seu  último número e também no boletim e revista Um Outro Olhar (nesta com editorais mais elaborados).

Na apresentação de seus objetivos, informo que o boletim procurava focar diferentes aspectos das vivências lésbicas bem como temas referentes à política dos movimentos sociais autônomos. E também quebrar o muro de preconceitos que envolvia e isolava as mulheres lésbicas, criando uma rede de contatos, informações e apoio tanto no Brasil quanto no exterior (já prevendo a rede Um Outro Olhar).

Oitavo Encontro Nacional Feminista - p. 1 (Rosely Roth)




Rosely faz um apanhado do 8º Encontro Nacional Feminista do qual 4 integrantes do GALF teriam participado (só lembro de 3). Ela descreve as oficinas das quais participou e a que coordenou (a do GALF). As oficinas de que participou foram sobre Sexualidade e Feminismo, Olhares, Racismo e Questão Indígena. E, claro, a oficina sobre Lesbianismo que coordenou.

Me atenho a esta, neste resgate. Embora, esta oficina fizesse parte da agenda oficial do encontro, no dia de sua execução, não aparecia na lista das oficinas. Tal fato nos obrigou a colocar cartazes no refeitório da colônia de férias do SESC, em Petrópolis, local onde todas as participantes necessariamente os veriam. E, na hora da oficina, que era para mulheres de qualquer orientação sexual, o ginásio já tinha várias mulheres. Ao todo 92 mulheres participaram do evento, tornando-o o de maior participação entre as oficinas do encontro.

Segundo relato de Rosely, após apresentação do GALF para as participantes, ela solicitou que as mulheres se dividissem em 4 grupos para discutir o tema do lesbianismo. Depois de meia-hora, foi dado material para que as participantes criassem cartazes que refletissem as discussões tidas em seus grupos. Foram criados 6 cartazes porque um grupo fez 2 cartazes e duas integrantes do GALF fizeram um com as discussões já tidas no próprio GALF.

Após a apresentação dos cartazes, deu-se um debate sobre os pontos levantados em cada grupo. Rosely registrou alguns, a saber (lembrando que a oficina era para mulheres em geral):

Pontos provavelmente levantados por héteros:

☑ Por que as mulheres lésbicas se fecham em guetos?
☑ Como uma mulher heterossexual será recebida num destes locais que integram o gueto?

☑ A repressão social leva à perda do prazer devido a sua introjeção por parte das mulheres lésbicas?
☑ Ser lésbica é uma opção como a de ser heterossexual?

☑ A relação entre duas mulheres pode reproduzir as desigualdades existentes nas relações heterossexuais?
☑ Existem padrões rígidos de comportamento no gueto?
☑ A masculinização de algumas mulheres lésbicas.

Pontos provavelmente levantados por lésbicas

☑ Não há opção, somos condicionadas a manter a ditadura da heterossexualidade.
☑ Lutar para que exista uma liberdade real de escolha, o que não é possível enquanto perdurar a ditadura da heterossexualidade.
☑ Procurar construir relações que não reproduzam as desigualdades existentes entre homens e mulheres.
☑ Uma aparência masculinizada não significa necessariamente que a mulher esteja reproduzindo o papel social do homem.
☑ Cada uma deveria poder se vestir da maneira que mais lhe agradasse e conviesse.
☑ A reprodução das desigualdades não está na aparência, mas na relação cotidiana que mantêm entre si e com as outras pessoas. A relação fancha-lady pode ser uma criação erótica-afetiva lésbica. Não tem muito a ver com a questão da reprodução dos papéis heterossexuais;

Pontos sobre política em geral levantados

☑ A delicadeza da posição política das mulheres lésbicas no movimento feminista.
☑ Todas as mulheres deveriam se unir para lutar contra toda e qualquer espécie de opressão e discriminação de que somos alvo, por sermos negras, lésbicas, etc. . .
☑ Como tratar a questão do Lesbianismo a nível institucional (escolas, hospitais, etc. )?
☑ Quem cala quanto às opressões existentes consente em mantê-las. Seu silêncio trabalha neste sentido.

Rosely termina seu resgate da oficina refletindo sobre a necessidade de mais debates sobre lesbianismo, porque as mulheres eram muito imbuídas de vários preconceitos padronizados pela ditadura heterossexual. Afirmava que num próximo encontro o GALF pretendia fazer duas oficinas, uma só para lésbicas (a pedidos) e a outra para quaisquer mulheres.

Sobre a intenção do desdobramento da oficina para dois públicos, Rosely registrou  que as lésbicas presentes na oficina requisitaram uma oficina só para lésbicas pois, nas mistas, perdia-se tempo em explicações "didáticas" para as mulheres heterossexuais que queriam saber se entre duas mulheres havia penetração ou como uma mulher heterossexual seria recebida num local que integra o gueto lésbico.

Concordando com o pedido, Rosely afirmou que 

[...] para a nossa organização específica, enquanto um movimento político autônomo, é imprescindível que façamos reuniões exclusivas para trocarmos experiências e informações que nos possibilitem organizar uma rede lésbica nacional, quem sabe possível de se concretizar a médio prazo. Trabalhando neste sentido, com o tempo poderíamos estruturar encontros lésbicos estaduais e nacionais. Esta sugestão de reuniões exclusivas será por nós encaminhada nos próximos encontros feministas. 

Interessante observar que Rosely aqui já falava de um movimento autônomo e de uma rede lésbica nacional que remanescentes do GALF fundarão em abril de 1990, com a Rede de Informação Um Outro Olhar, e em encontros estaduais e nacionais (algo que também será proposto em 1993 pelo grupo Deusa Terra) e que surgirá em 1996 com o I SENALE. Vale comentar, porém, que este seminário foi criado por feministas homossexuais do grupo CEDOICOM, sob o nome Coletivo de Feministas Lésbicas, que caíram de paraquedas no movimento de gays e lésbicas, onde não tinham qualquer lastro, em busca do financiamento governamental que começava a fluir para os grupos LG. Exatamente por ser estranhas no ninho, resolveram inventar a roda que já havia sido criada 17 anos antes de elas aparecerem. E agora tentam usurpá-la.


Rosely termina seu relato dizendo que o saldo da reunião fora bastante positivo para o GALF, que recebera muitos elogios e comentários de que a nossa oficina havia sido a melhor do encontro. 

Labrys, p. 6 (Míriam Martinho)

Diktynna
Na década de 80, o machado duplo, encontrado em imagens de deusas da Antiguidade (como a da deusa Diktynna ao lado) e das guerreiras amazonas começava a entrar no mercado dos símbolos e ideias como representante da força feminina e sobretudo das lésbicas. Resumi um pouco de sua história na nota abaixo. Hoje o símbolo é bem conhecido. Está presente na bandeira das lésbicas, em imagens as mais variadas, em colares, joias de vários tipos e tatuagens.

Na imagem da deusa Diktynna (2.000 a.C.), da cidade de Cnossos, Creta, Ela aparece segurando dois labrys. Segundo a mitologia, Diktynna vivia no topo do Monte Dikta. Seu nome continua vivo em nossas palavras “ditar” e “editar”.

Poesia - p. 7


Poesia era um espaço que eu definia como "para as lésbicas poderem falar de como era bonito, sensual, gostoso e ótimo amar outra mulher." Nesse sentido, sempre busquei trazer poesias de teor romântico e erótico de autoras conhecidas e desconhecidas que apreciavam escrever poesias, mais ou menos elaboradas, atividade pela qual lésbicas sempre tiveram predileção. (Míriam)

Neste número 11, escolhi três poesias, uma de Eliz, Ana Valim e uma minha, as três tematizando o amor lésbico superando as perseguições patriarcais e os encontros amorosos e eróticos.

Em Declaração, Eliz faz um resgate da opressão histórica das mulheres e dos amores entre elas pelas instituições patriarcais, em especial a nada santa madre igreja. Para a autora, apesar de rasparem nossas cabeças, taparem nossos olhos, acoitarem nossos corpos, caminhamos na contra mão da moral e dos dogmas. Apesar dos silêncios enlouquecidos dos despossuídos, o padre-santo não nos acossa mais do alto da catedral, os vitrais refletem seus seios temerosos, os santos assexuados desbotam de nossas lembranças, os anjos perdem as asas, rasgam as vestes e se oferecem sem culpa à nossa festa.

Em Lúcia, Ana Valim convida a amada, Lúcia, para vir com ela, numa manhã tranquila, a um encontro amoroso a fim de saciar o amor e as saudades de seu coração demente, arrancando a roupa numa forragem literalmente salpicada por sucos ardentes e canções banais que só nós vivemos em posição pélvica.

Em Além Mares, brinco com um crush que desenvolvi por uma gringa de cabelos castanhos claros e olhos azuis, lábios róseos, professora de inglês e proprietária de um delicioso sotaque em português. Brinco com as conquistas europeias e os amores miscigenados que moldaram o Brasil e foram mais importantes, entre o desejo e angústia que os geraram, do que as velhas revoluções de qualquer ordem. Porque não só de guerras vivem as bandeiras. Um antídoto ao mundo tribalista e antiocidental de hoje.

Dicas de Leitura - p. 8

As dicas de leitura foram aumentando na medida em que o GALF ia recebendo e ou adquirindo mais material. Além de listar o material para cópias, também comecei a acrescentar a essa seção lista de grupos e anúncios, com anúncios do próprio GALF como o "Precisa-se de Diagramadora". No número 10, eu já havia colocado um anúncio solicitando datilógrafa. Eu ficava muito sobrecarregada com a feitura do boletim porque era pau para toda a obra. Mas, de fato, só vou conseguir delegar a diagramação, ao menos, a outras pessoas no boletim Um Outro Olhar. 




Nossos Direitos - p. 10 (Zinélia)

Neste artigo, Zinélia, advogada do Recife, associada do GALF, discorre sobre a importância da homossexualidade ser reconhecida juridicamente para ter garantias individuais e coletivas. Argumentava que precisávamos ter proteção legal inscrita na constituição que estava para ser feita porque era do sistema constitucional que emanava o disciplinamento de outros sistemas como o penal, o civil, o trabalhista, etc. A homossexualidade considerada juridicamente deixaria de ser anomalia sexual, perversão e, como fato jurídico, deixaria de ser  apenas objeto de especulação científica.


Sua proposta era que, seguindo o princípio da isonomia "Todos são iguais perante...." poderia se inserir artigo na Constituição que punisse todos os tipos de discriminação, inclusive contra homossexuais. Concluía que, apesar da oposição inevitável da Igreja, havia mais pessoas abertas a nossas reivindicações e valia tentar.




Entrevista com as candidatas - p. 11 (Rosely Roth, Luiza Granado, Célia Miliauskas)


Entrevista com as candidatas Cassandra Rios, Dulce e Irede Cardoso foi uma quilométrica conversa (mais de 4 horas, segundo Rosely) com as então candidatas a deputada estadual (Cassandra) e a deputadas federais (as Cardoso) realizada no Ferro's Bar em setembro de 1986.

Os temas da entrevista foram obviamente os direitos das mulheres, de gays e lésbicas, negros, indígenas, mais a questão ambiental (na época chamada mais de ecológica) e a das usinas nucleares. E pragmaticamente sobre como as candidatas poderiam ajudar o GALF, se eleitas (ou mesmo não eleitas). Abaixo, resumo em termos gerais das falas das entrevistadas. Nenhuma delas foi eleita.

A entrevistada mais conhecida foi a escritora Cassandra Rios que se candidatou a deputada estadual pelo PDT, a convite do ex-governador paulista Adhemar de Barros. Cassandra, aliás, parece bem vaga sobre algumas questões, demonstrando sua inexperiência política. No geral, porém, suas posições podem ser consideradas progressistas: pelo direito das pessoas poderem ser o que eram (inclusive pelo direito ao casamento homossexual e adoção de crianças por gays e lésbicas, temas quase inéditos na época), pelo salário igual por trabalho igual de mulheres e homens, pela aposentadoria das mulheres após 25 anos, por causa da dupla jornada de trabalho, pela criminalização da discriminação racial no emprego, direito de greve, de ir e vir. Pela preservação das grandes reservas florestais, que a caça fosse proibida, os caçadores punidos com leis mais rigorosas, prisões agrícolas como medida de ressocialização de presos. 

Chama a atenção também como a experiência da censura de seus livros pelos militares a marcou e de como o período da abertura do regime já trouxe outro enfoque:

Vale também ressaltar que Cassandra fez desse limão (a perseguição censória à sua obra) um marketing para seus livros que quanto mais perseguidos mais vendiam. 


Irede Cardoso
foi jornalista da FSP onde tinha uma coluna chamada Feminismo, participante dos grupos Pró-Mulher e Frente das Mulheres Feministas, e editora do programa Mulher da Rede Globo. Tanto como jornalista quanto como parlamentar (foi vereadora muitos anos), sempre esteve engajada na luta pelos direitos das mulheres e uma das raras feministas da época a abordar e apoiar os direitos homossexuais . Mais do que a atriz Ruth Escobar que também encampou a luta pelo fim do parágrafo 302.0 do INAMPS que classificava a homossexualidade como desvio sexual, mas não se relacionava diretamente com os grupos homossexuais, Irede mantinha contato permanente com o GALF, foi peça fundamental na mediação com os donos do Ferro's Bar que resultou no sucesso da "manifestação do dia 19/08/1983," e abria seu gabinete para atender nossos pedidos de impressão do Chanacomchana. Em 1981, lançou "Os Momentos Dramáticos da Mulher Brasileira" (Global), abordagem sobre a história da mulher no Brasil.

Nesta entrevista, ela demonstra seu engajamento com as chamadas lutas menores, da mulher, negros, homossexuais, etc. que ainda eram pouco abordadas pela esquerda em geral. Mesmo no governo da abertura do general-presidente Figueiredo, as questões específicas dos grupos discriminados eram consideradas divisionistas, menores, diante da luta de classes e contra o regime militar. Para boa parte da esquerda ortodoxa, o feminismo era coisa de burguesa desocupada, a homossexualidade fruto da decadência da burguesia e por aí vai. Em 1986, embora a perspectiva não fosse mais a mesma, porque o poder voltara aos civis, essas questões ainda eram tratadas com certa reticência. Perguntada sobre os pontos principais de seu programa como candidata, ela vai enfatizar os direitos individuais, os direitos do cidadão, pensando também na redação da nova constituição que se avizinhava:

Nessa perspectiva da nova Constituição, Irede disse que endossaria a reivindicação dos movimentos homossexuais de modificar o artigo 153 que ficaria com a seguinte redação: "Punir todo ato que discrimina  a livre orientação sexual de cada pessoa seja hétero, homo ou bissexual." Lembrou que inclusive ela já havia aprovado projeto em São Paulo que caçava o alvará de funcionamento do estabelecimento comercial que discriminasse as pessoas por sua sexualidade, cor de pele, religião, seu sexo, etc. Considerava importante a punição tanto econômica quanto criminal dos atos discriminatórios.

Colocou-se também como defensora do casamento homossexual e da adoção de crianças por casais homossexuais, o que exigiria mudanças no código civil, nas leis ordinárias, pelo estímulo a mais organizações de mulheres, da periferia e das cidades, voltadas para os meios de comunicação, a escrita e a pesquisa,  o apoio às organizações do movimento negro, punindo os atos discriminatórios e a adoção de matéria sobre a cultura afro-brasileira nos currículos escolares.

Sobre os índios, a ecologia, as usinas nucleares, Irede se colocava pela preservação das reservas indígenas e contra a exploração mineral de suas terras que considerava estar sendo praticada de maneira bárbara (nada muda neste país). Colocava-se ao lado das nações indígenas, como os da União Nacional Indígena, inclusive como participantes na elaboração da constituinte. Sobre a ecologia, considerava fundamental levar as questões ambientais às escolas, às famílias e aos meios de comunicação para formar uma nova geração com cultura ecológica. Quanto às usinas nucleares, era taxativamente contrária a sua existência, considerando que os recursos hídricos eram suficientes para gerar eletricidade e que as nucleares não tinham aprovação científica nem popular. 

Dulce Cardoso foi uma ativista feminista e do movimento negro da década de 80 sobre a qual não  consegui infelizmente resgatar mais detalhes. Talvez inclusive porque, como declara em sua entrevista, não tivesse sonhos parlamentares, sua candidatura se desse mais por considerar aquele momento uma tarefa histórica a ser cumprida. Daí não ter dado continuidade a essa via política, pelo visto. Sua entrevista nessa edição do Chana, contudo, foi bem abrangente. 

A proposta de sua candidatura para as mulheres incluía a descriminação do aborto (até hoje, nada) e atendimento correspondente, o atendimento da saúde em todas etapas da vida das mulheres, as creches para que as mulheres pudessem deixar seus filhos enquanto no trabalho, o reconhecimento do trabalho doméstico como atividade social, direitos trabalhistas para a mulher do meio rural, salário igual para trabalho igual.

Para gays e lésbicas, dizia que, se eleita, lutaria contra o padrão heterossexual como único padrão de relacionamento sexual, pelo direito à privacidade, a liberdade de expressão e manifestação. O direito de uma mulher beijar a outra em público. E que, se essa expressão fosse reprimida, o opressor deveria ser criminalizado. Consequentemente, defendia a criminalização da hoje chamada homofobia (o termo ainda não tinha muita evidência na década de 80). O direito ao casamento homossexual e à adoção de crianças. Um trabalho educacional contra à heterossexualidade obrigatória.

Quanto à questão negra e  indígena, Dulce disse que se precisava garantir que o racismo fosse punido enquanto crime, que era importante resgatar a trajetória dos negros no Brasil e que o país precisava cortar qualquer tipo de relacionamento com a África do Sul em função do apartheid então em curso. No caso dos índios, afirmou que concordava com as reivindicações das nações indígenas: a autonomia dessas nações, o direito dos índios a sua terra, o direito à livre expressão cultural, o resgate da história indígena pelos próprios índios, o apoio para que esses povos pudessem registrar essas produções. 

No que diz respeito à questão ambiental e às usinas nucleares, Dulce afirmou:


De uma maneira geral, as três candidatas, falaram em direitos civis, direito de ir e vir, direito ao casamento homossexual e a adoção de crianças por gays e lésbicas (bandeiras dos anos 90), por "salário igual para trabalho igual" (salário igualitário para mulheres e homens), de criminalização à discriminação contra quaisquer grupos vulneráveis, da preservação ambiental e contra as usinas nucleares.

Sobre este último tópico, o das usinas nucleares, havia muita aversão à qualquer coisa ligada a energia nuclear em função da Guerra Fria, da assombração das bombas atômicas e também pelos então recentes desastres de Three Mile Island (1979) nos Estados Unidos e, sobretudo, o de Chernobyl, ocorrido em abril de 1986 na Ucrânia (URSS). Muito tempo depois, o acidente de Fukushima Daiichi (2011) no Japão garantiu que, apesar da segurança das usinas haver aumentado consideravelmente, seus riscos tenham mantido aceso o debate. De fato, embora seja uma energia limpa, comparada com a fóssil, produz lixo nuclear radioativo; utiliza recursos não renováveis (urânio);  utiliza muita água nas unidades; o risco de acidentes nucleares permanece elevado e o custo de construção das usinas é alto.

No que diz respeito às ações visando a Constituinte, Irede e Dulce concordavam sobre a necessidade de gays e lésbicas pressionarem os deputados, por via de telegramas e presencialmente, para formar um lobby o mais forte possível  a fim de garantir o espaço de manifestação da população durante a elaboração da nova constituição.

De fato isso foi realizado e, presencialmente, a constituinte contou com a participação do advogado João Antônio Mascarenhas, do Grupo de Liberação Homossexual Triângulo Rosa (RJ) que participou de duas subcomissões, a de Direitos e Garantias Individuais da Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher e da Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Deficientes Físicos e Minorias. Em ambas, Mascarenhas falou da discriminação sofrida pelos homossexuais e da demanda do movimento por ver expressamente proibida a discriminação por orientação sexual na nova Constituição, no parágrafo 1 do Artigo 153 que já proibia a discriminação de qualquer cidadão por credo, cor e sexo. Mascarenhas até conseguiu apoio de parlamentares do PMDB, PT e PCB, mas não o suficiente para conquistar a sonhada inserção da orientação sexual na nova constituinte.

Quanto à colaboração com os grupos de gays e lésbicas, em particular o GALF, Irede e Dulce afirmaram que, se eleitas, seus gabinetes estariam à disposição dessa população, e Cassandra Rios de que doaria direitos autorais de um de seus livros para o GALF (o que não ocorreu).

Dulce afirmou: 


Irede comentou:


De fato, a carência de recursos dos grupos na década de 80 será uma rotina. Após um começo promissor de 1979 a meados de 1981, o chamado MHB inicia um processo de recesso que vai se aprofundando até chegar, já em 1985, muito reduzido. Era possível então se contar o número de grupos nos dedos das mãos, e todos tinham um número diminuto de participantes. A militância dos anos 80 foi para os fortes e realmente comprometidos com a causa dos direitos de gays e lésbicas. O movimento que renasce após 1993 já terá um outro perfil e muitos oportunistas que apareceram atrás do dinheiro dos financiamentos governamentais. 

Em Movimento, p. 23 (Míriam Martinho)

Em Movimento eram notas que eu fazia com base em informações advindas de parlamentares, grupos nacionais e internacionais, notícias da imprensa (mídia tradicional e específica) sempre girando em torno da questão homossexual (e especificamente lésbica) e das mulheres.

Serviço de Informação Lésbica Internacional muda de país 

Informe do grupo suiço Vanille-Fraise, que sediou o Serviço de Informação Lésbica Internacional (ILIS) por 2 anos e organizou a o 8ª Conferência do ILIS, sobre a mudança do secretariado do ILIS para outro país de preferência do então chamado Terceiro Mundo. Elas informavam que estavam em condições de transferir cerca de R$197.000,00 para o futuro secretariado que cobririam seus gastos e os de uma próxima conferência.

Barra pesada nos EUA

Lyndon La Rouche
Impressionante relembrar como ainda em 1986 havia iniciativas tão preconceituosas e discriminatórias contra a população homossexual nos EUA. A Suprema Corte americana, à época, validou as leis contra sodomia ainda existentes em 24 dos 50 estados americanos, implicando poder processar e prender por até 20 anos alguém  por "delito de homossexualidade".

Na Califórnia, o político de extrema-direita Lyndon La Rouche (entre outras bizarrices) tentou criar uma quarentena para pessoas com AIDS (também para as apenas com o HIV) que impediria qualquer dessas pessoas de trabalhar em serviços médicos ou de alimentação ou qualquer outro trabalho onde houvesse contatos físicos com o público. Chamada proposta 64, foi felizmente rejeitada em 4 de novembro de 1986, mas entrou para a história das propostas políticas infames. 

Projeto de Ajuda a Prisioneiros Homossexuais

A Anistia Internacional não apoiava pessoas perseguidas por serem homossexuais na década de 80, mas começava a mudar de posição em 1986, iniciando uma pesquisa global sobre detenções por homossexualidade. Para apoiar a pesquisa, a Associação Internacional de Gays e Lésbicas decidiu pedir apoio à comunidade gay e lésbica internacional com o objetivo de arrolar casos de pessoas presas por sua homossexualidade em todo o mundo, enfatizando o quanto o apoio da Anistia Internacional seria importante para o segmento.

Primeiro Encontro de Lésbicas Feministas Latino-americanas e do Caribe


Informe sobre a organização do primeiro encontro de lésbicas-feministas latino-americano (que viria ser organizado em outubro de 1987) assumido em Genebra, durante a 8ª Conferência do ILIS, pelos grupos mexicanos. O coletivo de mulheres que se encarregou da organização foi composto por mulheres independentes e integrantes dos grupos Mujeres Urgidas de n Lesbianismo Autentico, Seminário Marxista-Leninista de Lesbianas Feministas e Projeto Editorial El Closet de Sor Juana. Os objetivos eram os mais amplos possíveis, mas podem ser resumidos na proposta de analisar e discutir a situação jurídica, social, científica, cultural, religiosa e política vivida pelas lésbicas nos diferentes países latino-americanos e dar continuidade a ideia de uma Rede de Lésbicas Latino-americanas e do Caribe.

Projeto Gêmeos e GALF

Projeto Gêmeos foi uma iniciativa do Movimento Homossexual e Lésbico do Peru, aprovada pela ILGA, no sentido de incorporar mais grupos latino-americanos à entidade. Consistia no apoio financeiro de um grupo europeu a um grupo latino no sentido de pagar a taxa anual da ILGA e na troca de informações e materiais entre os "gêmeos". O GALF também se incorporou a esse projeto.



É assim mesmo -p. 26 (Marina)
 

Em É assim mesmo, Marina, associada do GALF de Belo Horizonte, descreve um caso de uma jovem supostamente violentada por 4 lésbicas, suas vizinhas, que a convidaram para uma festa em seu apartamento (delas), a drogaram e agrediram sexualmente. Marina soube da situação porque era plantonista de um CVV para onde a garota de 16 anos ligou em busca de ajuda.

Um tanto incrédula com a história, Marina insistiu que a garota comparecesse a uma entrevista ao vivo, onde constatou que ela havia realmente sido agredida, pois estava com os seios roxos, arranhados, inchados. Soube também depois, provavelmente pela ginecologista que atendeu a garota, de que a extensão dos ferimentos vaginais era grande, pois as mulheres a violentaram com um dildo. Entretanto, o máximo que pode fazer pela garota foi lhe conseguir uma ginecologista e um psiquiatra, já que ela relatou viver com uma tia que, se soubesse do ocorrido, a poria pra fora de casa. Marina relata que após conseguir a ginecologista e o psiquiatra para a jovem, ela sumiu, nunca mais fez contato.

Marina concluiu seu relato refletindo sobre a reprodução dos papeis masculinos nas relações entre mulheres a ponto de se chegar a agressão sexual de uma menor de idade. Partindo do verso da música Super-Homem (1979), de Gilberto Gil, "minha porção mulher é o melhor que trago em mim agora", Marina pontuou:


Marina coloca feminino entre aspas pela consciência de que essas qualidades atribuídas às mulheres são fruto de uma socialização desde o berço e não naturais como apregoam conservadores e transativistas. Mulheres podem ser muito cruéis também se surgirem condições para exerceram suas maldades Entretanto, a socialização para as ditas qualidades femininas adestram as mulheres para serem mais ternas e sensíveis. Fora que a condição de subordinação do sexo feminino contém o lado violento das mesmas que acaba se desviando pra múltiplas violências verbais. No entanto, a empatia, como qualidade humana e não só das mulheres, merece ser sempre evocada como métrica para os relacionamentos humanos. Qualidade que, diga-se de passagem, está mais fugidia do que nunca nos dias de hoje. 

Outras Mulheres - p. 28 (Célia Miliauskas)

Resenha do livro Outras Mulheres (Editora Imago, 1986) feita por Célia Miliauskas. O romance trata do relacionamento terapêutico entre Caroline Kelley e Hannah Burke. Caroline é a paciente de 35 anos, enfermeira, mãe de dois filhos, casada com outra enfermeira que quer a separação,  em crise existencial.

Hanna, a terapeuta, é uma inglesa de cerca de 60 anos, casada com um americano com quem teve 3 filhos, dois deles mortos num acidente, acidente que a levou a se tornar terapeuta.

Segundo Célia, apesar da crise existencial de Caroline em fim de caso com a namorada, a história não resvala para enredo preconceituoso, comum no período. Pelo contrário, a autora parece conhecer o mundo lésbico e apresenta personagens familiares a todas as lésbicas.

O enredo do livro gira em torno das sessões terapêuticas entre Caroline e Hanna e as alterações que ocorrem na vida de ambas a partir desses encontros profundos e transformadores. Segundo Célia, esse  relacionamento evolui da animosidade e relutância para a confiança, afeição e admiração mútuas. Por fim, Célia afirma que:

Troca-cartas (p. 30)
Para um bom papo, aquela transa, um grande amor

Neste troca-cartas, dei continuidade aos anúncios mais personalizados, que viraram regra, com indicações de passatempos e o tipo de contato que as anunciantes queriam, se para compromisso, amizade, transa. A seção ocupou 2 páginas e meia desta edição revelando seu sucesso crescente. A maioria dos classificados desta edição foi de mulheres de São Paulo, tanto capital e região metropolitana quanto do estado (35). Seguidos de anúncios dos estados da BA (5), MG (4), RS (3), PR (3), ES (1), MS (1), GO (1).


 
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